Maria do Rosário olhava Alberto com ternura, enquanto lhe cortava uma fatia generosa de torta de cenoura. Ah, como o tempo fora pouco magnânimo para com ele! Recordava-o ainda muito jovem, talvez com uns catorze anos, sorrindo-lhe timidamente durante as aulas de Francês da Madame Rose. Ela não se dava muito com os colegas de turma. Regressara há pouco de África e era tudo tão novo que chegava a ser assustador. Tinha saudades do sol, do calor, da liberdade de ir à praia ao fim da tarde, da Nhá Siara e do Tito. De comer mangas maduras até lhe doer a barriga...
Rosarinho, como lhe chamavam à época, dera para sonhar com os olhos ternos de Alberto e, um dia, num arroubo de loucura, escreveu-lhe um bilhete.
Rosarinho, como lhe chamavam à época, dera para sonhar com os olhos ternos de Alberto e, um dia, num arroubo de loucura, escreveu-lhe um bilhete.
Alberto, gosto de ti,
sabes? Podes acompanhar-me a casa no final das aulas, se quiseres.
Rosarinho
Mal terminou de passar os exercícios de gramática que a professora Laurinda escrevera no quadro, lançou-se porta da sala fora, coração aos pulos, arrependida do que tinha feito. Estacou no portão do Liceu ao ouvir o seu nome na voz doce de Alberto. Sentiu a respiração ofegante dele, olhou-o, envergonhada, e, sem que nada o previsse, ele pespegou-lhe um beijo ruidoso na bochecha e pegou-lhe na mão para a levar a casa.
Fora há cinquenta anos.
O tom de rosa talvez esmaeça com o tempo mas ainda é uma cor bonita. Toda ela ternura.
ResponderEliminarA ternura não tem idade.
EliminarBeijos, Luísa :)
Se mudares,
ResponderEliminarnomes e lugares
contas-me um passado
há cerca de 60 anos
ela chamava-se Madalena
e era sardenta
A tua. :)
EliminarSortudo!
Beijinhos, Rogério :)
Foi há cinquenta anos mas ainda hoje sente o gosto desse beijo :)
ResponderEliminarA memória do amor.
EliminarBeijos, GM :)
OK, you win.
ResponderEliminarYou are so romantic.
Let's make love . . .
xx
Have a nice Sunday, Rick! :)
EliminarSublimes!
ResponderEliminarO texto e a música que o acompanha.
Bjs
Obrigada, Pedro. Muito.
EliminarBeijinhos :)
Há 50 anos era tudo bem diferente ! ...
ResponderEliminarE não me digas que não !:) ... Nas mulheres, a iniciativa resulta (quase) sempre, muito mais que nos homens !
Nelas, está (quase) sempre o poder de decisão, que até como neste caso, pode influenciar ou decidir o futuro !
Eu diria até que "elas" conseguem tudo e que o mundo é delas !rsrs
Só "aparentemente" os homens é que decidem !
Beijinhos ! :)
Se tu o dizes, eu acredito!
EliminarBeijinhos, Rui :)
Gostei muito :)
ResponderEliminarObrigada, CC. :)
EliminarBeijinhos
50 anos que passam tão depressa como um beijo :)
ResponderEliminarSe calhar, sim, Laura.
EliminarBeijos :)
Caramba, que coisa bonita, a história da Rosarinho e do Alberto...a vida pode ser assim (não sei se pergunto se afirmo...)
ResponderEliminarO amor terno deixá-los sempre lamechas, Olvido. :)
EliminarBeijos
Caramba, Maria, isto é lindo. O rapaz à espera no portão do Liceu... Era mesmo assim: saber esperar para alcançar.
ResponderEliminarBem me lembro da Rosarinho.
Bj.
Havia algumas, não era? :)
EliminarBeijinhos, Agostinho.