quarta-feira, maio 10, 2017

Quand la vie était plus rose.

(Michael Carson)


Maria do Rosário olhava Alberto com ternura, enquanto lhe cortava uma fatia generosa de torta de cenoura. Ah, como o tempo fora pouco magnânimo para com ele! Recordava-o ainda muito jovem, talvez com uns catorze anos, sorrindo-lhe timidamente durante as aulas de Francês da Madame Rose. Ela não se dava muito com os colegas de turma. Regressara há pouco de África e era tudo tão novo que chegava a ser assustador. Tinha saudades do sol, do calor, da liberdade de ir à praia ao fim da tarde, da Nhá Siara e do Tito. De comer mangas maduras até lhe doer a barriga... 
Rosarinho, como lhe chamavam à época, dera para sonhar com os olhos ternos de Alberto e, um dia, num arroubo de loucura, escreveu-lhe um bilhete.


Alberto, gosto de ti, sabes? Podes acompanhar-me a casa no final das aulas, se quiseres.


Rosarinho

Mal terminou de passar os exercícios de gramática que a professora Laurinda escrevera no quadro, lançou-se porta da sala fora, coração aos pulos, arrependida do que tinha feito. Estacou no portão do Liceu ao ouvir o seu nome na voz doce de Alberto. Sentiu a respiração ofegante dele, olhou-o, envergonhada, e, sem que nada o previsse, ele pespegou-lhe um beijo ruidoso na bochecha e pegou-lhe na mão para a levar a casa.

Fora há cinquenta anos. 


20 comentários:

  1. O tom de rosa talvez esmaeça com o tempo mas ainda é uma cor bonita. Toda ela ternura.

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  2. Se mudares,
    nomes e lugares
    contas-me um passado

    há cerca de 60 anos

    ela chamava-se Madalena
    e era sardenta

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  3. Foi há cinquenta anos mas ainda hoje sente o gosto desse beijo :)

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  4. OK, you win.
    You are so romantic.
    Let's make love . . .

    xx

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  5. Sublimes!
    O texto e a música que o acompanha.
    Bjs

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  6. Há 50 anos era tudo bem diferente ! ...
    E não me digas que não !:) ... Nas mulheres, a iniciativa resulta (quase) sempre, muito mais que nos homens !
    Nelas, está (quase) sempre o poder de decisão, que até como neste caso, pode influenciar ou decidir o futuro !
    Eu diria até que "elas" conseguem tudo e que o mundo é delas !rsrs
    Só "aparentemente" os homens é que decidem !

    Beijinhos ! :)

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  7. 50 anos que passam tão depressa como um beijo :)

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  8. Caramba, que coisa bonita, a história da Rosarinho e do Alberto...a vida pode ser assim (não sei se pergunto se afirmo...)

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    1. O amor terno deixá-los sempre lamechas, Olvido. :)

      Beijos

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  9. Caramba, Maria, isto é lindo. O rapaz à espera no portão do Liceu... Era mesmo assim: saber esperar para alcançar.
    Bem me lembro da Rosarinho.
    Bj.

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