- O meu pai é bonito, não é?
Clara acenou que sim num movimento pouco convincente, dada a circunstância. O homem, num fato escuro, camisa branca e gravata de riscas azuis, com uma flor na botoeira, jazia, hirto, num caixão pejado de flores.
Percebeu melhor a perda dela no dia seguinte, vendo-a desorientada na casa grande, abrindo e fechando portas e gavetas, olhando as fotografias emolduradas espalhadas pelos móveis.
- Não sei! Não sei arrumar as coisas deles!
As da mãe continuavam ali, depois de cinco anos. O frasco de perfume favorito quase vazio, o bâton cor de rosa, as malas alinhadas por tamanho, as roupas... Tinham acompanhado as do homem bonito que a amara, quem sabe tocando-se pela calada da noite, numa mistura de fragrâncias rescendendo a flores e a cedro.
- Amanhã! Amanhã venho ver das arrumações! Como é que os separo aos dois? Como é que me separo dos dois?
Clara abraçou-a longamente, sem palavras. Depois, fechando a porta à chave, saíram para o sol, de braço dado.
Não é fácil arrumar as vidas que partiram.
ResponderEliminarNunca é!
EliminarBeijos, Luísa :)
Biber's sonata is a beautiful, tragic accompaniment to this dreadful Munch painting.
ResponderEliminarWonderfully matched, my dear.
😘
Death is never easy to cope with, Rick!
EliminarKisses :)
O Sol presente na última frase faz todo o sentido. Por vezes, é necessário abrir as gavetas ao Sol... precisam de respirar... espreguiçar...
ResponderEliminarBeijo!
O Sol tem poderes curativos, literal e figurativamente, Eros.
EliminarBeijinhos :)
Todas as decepções são secundárias. O único mal irreparável é o desaparecimento físico de alguém a quem amamos.
ResponderEliminarSem dúvida, Legionário! É duro perder alguém que amamos!
EliminarBeijinhos :)
"Não saberei nunca
ResponderEliminardizer adeus
Afinal,
só os mortos sabem morrer"
(...)
Mia Couto/Poema de despedida
Um beijinho, querida Maria
Os vivos sofrem com as partidas dos que amam. Muito.
EliminarBeijos, querida Miss Smile :)
É sempre duro. E nunca sabemos como dizer adeus...
ResponderEliminarNinguém sabe, acho, CC.
EliminarBeijinhos :)
nã me imagino...
ResponderEliminarPois... É muito difícil, Manel.
EliminarBeijinhos :)
Nenhuma despedida é igual à outra
ResponderEliminarmas as ausências, essas sim
sentem-se quase iguais
Sentem-se fundo, sim!
Eliminarbeijinhos, Rogério :)
Nem sempre perdemos as pessoas para a morte... Temos sempre que sacudir a poeira do que elas deixaram pra trás. Amei.
ResponderEliminarlua-de-carmim.blogspot.com
Ficam as coisas boas para recordar.
EliminarObrigada pelas palavras, Lua de Carmim :)
Há muito quem recuse aceitar a partida de um ente querido.
ResponderEliminarBfds
Dar um tempo, Pedro. Às vezes é preciso...
EliminarBeijinhos :)
É tão difícil ver partir os que amamos
ResponderEliminarKis :=}
BFSEMANA
Muito!
EliminarBeijos, AvoGi :)
Gosto de Munch, mas o tema morte é algo que não gosto, embora seja inevitável !
ResponderEliminarA música de câmara vou ouvindo um pouco de cada vez !
Gostei do texto também !
EliminarPor mais que lhe fujamos, ela está lá. Eu também fico com um nó na garganta, mas tento, devagar, aceitá-la.
EliminarBeijinhos, Ricardo, e obrigada :)
Como este texto me tocou Maria :) Beijinho
ResponderEliminarUm beijo grande, GM. :)
EliminarDói muito dizer adeus a quem amamos.
ResponderEliminarGostei muito de ler.
Beijinho.
Dói sempre muito.
EliminarObrigada!
Beijos, Sofia :)
Já despedi-me de muitas pessoas queridas, entre eles o meu pai, triste, bjs amiga
ResponderEliminarPerder quem se ama dói mais do que muito.
EliminarBeijos, Zulmira :)
É uma grande mágoa quando a extrema orfandade nos atinge. Um texto muito comovente.
ResponderEliminarUma boa semana.
Beijos.
Privados da infância, de uma parte do nosso crescimento.
EliminarBeijos, Graça, e muito obrigada :)
Quando comecei senti,
ResponderEliminarao ler pressenti.
Momentos. Horas há,
na desarmonia dos gestos,
em que a gente se confronta,
em que o sentido das coisas
se intranquiliza,
em que os sentimentos
se desemparelham
no vazio deserto
que fica em nós.
Deixo um bj, Maria.
Vazios cheios de memórias.
EliminarBeijos, Agostinho, e obrigada :)