sexta-feira, outubro 03, 2014

Canção do amor total I - Ted


   LOVE SONG

    He loved her and she loved him.
    His kisses sucked out her whole past and future or tried to
    He had no other appetite
    She bit him she gnawed him she sucked
    She wanted him complete inside her
    Safe and sure forever and ever
    Their little cries fluttered into the curtains

    Her eyes wanted nothing to get away
    Her looks nailed down his hands his wrists his elbows
    He gripped her hard so that life
    Should not drag her from that moment
    He wanted all future to cease
    He wanted to topple with his arms round her
    Off that moment's brink and into nothing
    Or everlasting or whatever there was

    Her embrace was an immense press
    To print him into her bones
    His smiles were the garrets of a fairy palace
    Where the real world would never come
    Her smiles were spider bites
    So he would lie still till she felt hungry
    His words were occupying armies
    Her laughs were an assassin's attempts
    His looks were bullets daggers of revenge
    His glances were ghosts in the corner with horrible secrets
    His whispers were whips and jackboots
    Her kisses were lawyers steadily writing
    His caresses were the last hooks of a castaway
    Her love-tricks were the grinding of locks
    And their deep cries crawled over the floors
    Like an animal dragging a great trap
    His promises were the surgeon's gag
    Her promises took the top off his skull
    She would get a brooch made of it
    His vows pulled out all her sinews
    He showed her how to make a love-knot
    Her vows put his eyes in formalin
    At the back of her secret drawer
    Their screams stuck in the wall

    Their heads fell apart into sleep like the two halves
    Of a lopped melon, but love is hard to stop

    In their entwined sleep they exchanged arms and legs
    In their dreams their brains took each other hostage

    In the morning they wore each other's face

   (Ted Hughes)



(Margarita Sikorskaia)


   
CANÇÃO DE AMOR

    Ele amava-a e ela amava-o.
    Os beijos dele sugavam-lhe todo o seu passado e todo o seu futuro, ou tentavam-no
    Ele não tinha qualquer outro apetite
    Ela mordia-o, roía-o, chupava-o
    Ela queria-o inteiro dentro dela
    Seguro e certo para todo o sempre
    Os seus  gemidos alvoroçando-se cortinas adentro

    Os olhos dela não deixavam que nada escapasse
    Os olhares dela prendiam-lhe as mãos, os pulsos, os cotovelos
    Ele agarrava-a com toda a força para que a vida
    Não a arrastasse para fora desse momento
    Ele queria que todo o futuro acabasse
    Ele a desabar, com os seus braços a rodeá-la
    Para fora daquele momento, para dentro do nada  
    Para todo o sempre  ou para o que quer que viesse 

    O abraço dela era uma enorme prensa 
    Que o imprimia até aos ossos
    Os sorrisos dele eram   o sótão de um palácio encantado
    Onde a realidade nunca entraria
    Os sorrisos dela eram mordidelas de aranha  
    Assim, ele permanecia tranquilamente deitado até que ela sentisse fome
    As palavras dele eram exércitos ocupantes 
    As gargalhadas dela eram tentativas de assassinato 
    Os olhares dele eram balas, dardejando vingança
    Os olhares de relance dela eram fantasmas nos cantos, com segredos terríveis
    Os sussuros dele eram chicotes e botas de montar  
    Os beijos dela eram advogados, escrevendo sem parar 
    As carícias dele eram o último dos anzóis de um náufrago  
    Os ardis de amor dela eram o ranger das fechaduras
    E os gritos profundos de ambos  arrastavam-se pelo chão
    Como um animal preso a uma enorme armadilha  
    As promessas dele eram a máscara de um cirurgião 
    As promessas dela arrancavam-lhe o escalpe 
    Ela mandaria fazer dele um broche  
    As promessas dele arrancaram-lhe todos os tendões
    Ele mostrou-lhe como fazer um nó de amor 
    As promessas dela mergulharam-lhe os olhos em formalina  
    Por detrás da sua gaveta secreta  
    Os gritos de ambos cravados na parede

    As cabeças de ambos separaram-se no sono como duas metades 
    De um melão mutilado, mas é difícil reprimir o amor
    No seu sono entrelaçado, trocaram braços e pernas 
    Nos seus sonhos, o cérebro de cada um fez o do outro refém 

    Pela manhã, cada um vestia o rosto do outro.   


    (Ted Hughes traduzido por Maria Eu)


 

12 comentários:

  1. Respostas
    1. Para além de qualquer limite!

      Beijinhos Marianos, Til! :)

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  2. Podem mascarar a miséria,
    Mascarar a repressão.
    Tentar entorpecer minhas ideias
    Mas reprimir o meu Amor, nunca o farão.

    Bom Fim de Semana Maria :)

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    1. Não há como!

      Beijinhos Marianos, Legionário, e um fim de semana cheio de sol! :)

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  3. Esta é a parte do amor
    que soa melhor

    ou não fosse uma canção

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    1. Verdade, Rogério!

      Beijinhos Marianos e bom Domeingo! :)

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  4. Avassalador. E a trudução está esplêndida!

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    1. Avassalador é a palavra certa, Tio!
      Obrigada, muito!

      Beijinhos Marianos! :)

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  5. O amor, sempre o amor. Ted Hughes tem poemas fantásticos. Oh e a pintura lindíssima! Adorei.
    Bom fim de semana, Maria!

    Kiss

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    1. Ted e Sylvia, um amor com resultados "explosivos"!
      Obrigada, Vénus!

      Beijinhos Marianos e um bom fim de semana! :)

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  6. Magnífico poema, magnífica versão portuguesa. Talvez, muito provavelmente, uma canção de Ted para Sylvia, ela própria autora de outra célebre Love Song: dois sonhadores, perdidos nos seus labirintos.

    Boa tarde, Maria :)

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    1. Sim, escreveu-o para Sylvia. Um amor obsessivo, de uma intensidade quase doentia...mas do qual resultaram palavras maravilhosas!
      (temo que a tradução não seja muito boa mas foi como senti o poema)

      Beijinhos Marianos, Xil, e muito obrigada! :)

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