sábado, setembro 12, 2015

Não te irei visitar

(Brenda Goodman)


Não te irei visitar.Estás em que piso? Dois? Recebes visitas, agora, ou já não? Corre-te nas veias soro com morfina. Não terás dores. Dormes, por certo. Irreconhecível, como quando vieste ao último funeral. Absurdo, não é? Encontrarmo-nos em funerais e, agora, saber que aguardo o teu... Não! Acho que não quererias que te visitasse agora. Não a ti, homem cordato, de sorriso aberto e olhar doce, mas a esse outro, inerte e pálido, adormecido numa qualquer cama de hospital. Dizem que morres. Para mim, não morrerás. Por isso, não, não te irei visitar.


33 comentários:

  1. Sem dúvida, só morre quem deixamos que morra e, para isso, nem é preciso que a morte venha.

    Boa noite Maria Tu

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    1. A palavra já diz tudo...

      Beijos, noname, e uma boa noite. :)

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  2. Quando alguém de quem gostamos morre ou está prestes a falecer…abre-se em nós uma imensa ferida que até pode parar de doer, mas nunca sara. Sensação de injustiça, de desamparo, de descrença na vida. Sensação eterna de vazio.
    A verdade é que o tempo pode até diminuir a dor, mas nunca cura essa falta. Mas talvez a gente nunca se conforme, ou passemos a vida inteira… tentando entender. E não entenda.
    A saudade vai tentando massacrar a memória, o tempo vai deixando o passado meio desfocado e a gente precisa lutar para não deixar que as lembranças esmoreçam. Para não permitir que a eterna indignação da perda se torne mais relevante do que as coisas boas vividas.
    Maria, as pessoas entram em nossa vida por “acaso”, mas não é por acaso que elas permanecem.

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    1. É uma dor funda. Ainda que digamos que não morrem, o facto é que nos faltam!

      Beijinhos, Legionário. e uma boa semana. :)

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  3. Eu queria dizer qualquer coisa, mas talvez parecesse deslocado.
    (Acho que iria, de qualquer forma. Talvez tentasse arrancar um último sorriso aberto e um olhar doce ao homem inerte e pálido. A minha teimosia diante da morte um dia cega-me ou mata-me. Olha, não sei.)
    Bom fim de semana, Marioca.
    Beijinhos.

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    1. Tenho medo de chorar e que ele veja. Que sinta o medo...

      Beijos, indinha azul, e uma boa semana. :)

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  4. À certas pessoas na vida que se diz que só encontramos em funerais e hospitais e os antigos dizem que é aí que se vê os amigos, eu acho que é no dia-a-dia e esses ficarão sempre no nosso coração e pensamento, por grandes feitos.

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    1. Sim. A cada dia se cultivam as amizades.

      Beijinhos, Urso Misha. :)

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  5. Julgo que, por vezes, a decisão de não visitar alguém que está muito mal, tem que ver com a vontade de agarrar com mais força as memórias da fase "normal" e saudável dessa pessoa.
    Não tenho uma opinião formada sobre o assunto. Acho que não há um lado certo e outro errado. Uma decisão a tomar caso a caso.

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    1. Luta-se contra o medo mas ele está lá. Temo que os olhos dele vejam esse medo nos meus.

      Beijos, Isabel. :)

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  6. Querida Maria Eu, faltam-me as palavras...sou bastante fraca nestas situações. Deixo-te apenas um abraço apertado carregado de carinho, "aquele abraço" o mesmo com que me envolveste quando precisei, curiosamente há um mês atrás.
    Um grande beijinho

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  7. Entendo tanto isso, Maria. A preservação da lembrança dos outros, como os queremos lembrar. Há quem aponte o dedo e lhe chame egoísmo, eu chamo-lhe um ato de amor como outro qualquer. Mais, um dia, se por doença ficar num determinado estado, gostava que me preservassem dos olhares de comiseração alheia, acompanhados dos, mesmo que não ditos, provavelmente pensados, "como ela era e como ela está".

    Beijinhos, Maria.

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    1. Acho que é isso. Quero lembrar a pessoa que era e não quero que veja em mim a dor e o medo.

      Beijos, Cláudia. :)

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  8. .

    .

    . "A visão da vacuidade é o verdadeiro caminho e, por fim, a liberdade alcançada pelo cultivo da sabedoria é a verdadeira cessação." .

    .

    . assim o disse Dalai Lama . e assim o re.digo eu . hoje e aqui . talvez por ter "sentido" a "presença" da eternidade . :) .

    .

    . um imenso abraço meu .

    .

    .

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  9. Maria,
    Quando estamos numa cama de hospital não somos nós. Tudo toma uma outra dimensão. Os sentimentos e emoções assumem uma nova perspectiva. Os nossos ideais chegam a alterar-se intensificando ou perdendo valor. A sobrevivência fala mais alto. Ou, é a iminência da morte que grita.
    A solidão e o medo, mesmo calados, imperam.
    Eu não iria visitar, que não se querem visitas. Eu iria estar do lado. Que isso sim, aconchega a alma e alivia as dores do corpo.


    *esqueci-me, há pouco, de elogiar este lindo pedacinho de jardim que abre o blog.

    tem um bom domingo
    bjn amg

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    1. Serei capaz? Não sei... :(

      *uma foto feliz num local de que gosto particularmente. :)

      Beijinhos e uma boa semana, Carmem. :)

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  10. Vou-te confessar um segredo meu. Nunca visito pessoas à beira da morte que sei que faltam dias para o seu fim e nunca vou a cemitérios visitar o lugar onde ficaram a morar algumas das minhas doces pessoas. Guardo as memórias das suas gargalhadas, das palavras parvas que um dia disseram totalmente fora de contexto, dos seus sorrisos rasgados e dos abraços apertados. Fiquei com a memória do meu colega e amigo Salvador ( que me morreu nos braços enquanto trabalhava) inchado, cheio de feridas, sem cabelo, num sofrimento horrível e tenho dificuldade em me lembrar do Salvador que fazia surf vivia em Peniche perto do mar gostava de umas patuscadas e petiscos, bebia uma imperiais valentes, fazia surf e um dia com muita paciência até me tentou ensinar - e não resultou claro está....

    Gosto de ficar com o lado bom da vida de quem parte e só assim é possível.

    Beijinho enorme na Maria que és TU

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    1. Esse é meu receio. Isso e fazer sentir que tenho medo, que adivinho o desfecho iminente.

      Beijos, enfermeirinha. :)

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  11. Abraço apertado Maria. Sei do que falas... Provavelmente não irias gostar do que ias ver e essa imagem acompanhar-te-ia durante dias e meses e noites, muitas noites e nessa fase a pessoa já nem te vê... Mas talvez te sintas melhor se fores, não sei. Beijo grande

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  12. Não existe morte nem princípio
    quando não deixamos morrer os nossos mortos
    e assistimos a todos os partos

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  13. Que importa o corpo, se morre
    (e todos os corpos morrem)
    Visitemos a alma, seja lá o que for a alma
    A quem morre, acalma

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  14. Acho que também sentiria medo mas não sei... Nunca sabemos até nos confrontarmos com as situações.

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    1. Muito medo, Luísa, à mistura com dor, raiva, impotência...

      Beijos. :)

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  15. Percebo muito bem a opção da não visita.
    Já senti o mesmo várias vezes.
    Um excelente texto, chega a ser comovente (a mim comoveu-me).
    Maria, tenha uma boa semana.
    Saudações poéticas.

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    1. Obrigada, Jaime.

      Uma boa semana para si, também.

      Beijinho. :)

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  16. Há linhas difíceis de seguir, campainhas ensurdecedoras de tocar, degraus vertiginosos de equilibrar e ante-câmaras aventurosas de matar...
    E terão todas as etapas alternativa?

    Bj

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