segunda-feira, fevereiro 19, 2024

Perda

 


Tinha 18 anos quando João morrera. Não sabia ainda da dor da perda física e de como se estranhava, atingindo o peito como uma bala explosiva, causadora de ferimento maior. 

Fora logo pela manhã. Tinha acabado de se sentar na cozinha, o café com leite quente, na chávena de flores da Vó Zira, ainda intocado. A Tia Manecas dizia palavras cinzentas na manhã clara e nada as podia fazer voltar atrás! 

Demorou a acreditar na mensageira de tamanha desgraça. Ainda Domingo o calor das mãos dele, do João, do seu João, tinha aquecido as suas, subrepticiamente, no final da missa. Nem um beijo sequer haviam trocado. 

Tinha 18 anos e julgou nunca mais amar. 


(Cigarretes After Sex - Cry)

8 comentários:

  1. Cigarettes After Sex e Sufjan Stevens são os meus must hoje em dia.

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  2. Em três parágrafos contas uma história plena de vida de verdade. Encanta o desfiar da narrativa pelas imagens impressivas.
    E vamos. E vou percorrendo os dias de mãos quentes procurando senti-los à minha maneira não vão elas arrefecer com alguma bala das tais que abrem um "fu'inho" no peito e deixam em homem destroçado. Pronto para o arrefecer do sono.
    Saúde, Amiga, beijo.
    Logo vou ouvir.

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    1. É mesmo isso, Agostinho! Vamos tentando tapar esses "fuinhos"...
      Muita saúde para ti também e boa Páscoa!
      Beijinhos

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  3. Uma pequena narrativa a dizer tanta emoção, num texto magnífico que li e reli com imenso gosto.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  4. Olá Maria, gostei imenso desta tua narrativa, que me leva a lembrar sentimentos mais profundos que estão guardados no meu interior. É muito bom estares novamente aqui em 2024;)

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    1. Todos temos um pouco dos outros, não é, Legionário?
      Obrigada pelo carinho!
      Espero que a tua vida se esteja a "resolver".
      Beijinhos

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