terça-feira, junho 16, 2015

Da importância da vírgula

(daqui)


Era uma vez um país muito pequenino, onde viviam 10 números: o zero, o um, o dois, o três, o quatro, o cinco, o seis, o sete, o oito e o nove. Eram todos muito felizes até o zero ouvir dizer entre dentes, ao dois, "este é um zero à esquerda". Não sossegou enquanto não se juntou ao um. À direita, claro. Dez era um número maior do que todos os outros e ambos ficaram felizes com o acordo. Um dia, enquanto dormiam, uma vírgula do país vizinho, o da pontuação, veio de mansinho e meteu-se entre os dois. Ficou apoplético, o zero, quando acordou e viu a invasora. Então agora valia zero de novo? E, ainda por cima, o um ficava na mesma? Mal a noite desceu, mudou-se para a esquerda da vírgula. Zero vírgula um!
Nem se deu conta de que voltara a ser um zero à esquerda.


21 comentários:

  1. Genial Maria,
    A diferença que faz uma vírgula na quantificação do número e na interpretação de um linha.
    Beijinhos

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  2. O Rogérito, um miúdo nosso conhecido, apareceu-me muito esmorecido e perguntou-me
    "isto é comigo?"
    Lá lhe expliquei aquilo que sei
    e ele prometeu-me que lhe iria dedicar uma redacção, sem virgulas nem pontuação

    (texto giro!)

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    1. O Rogerito, um zero??? Jamais! :)
      (obrigada)

      Beijos, Rogério. :)

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  3. Impressionante...!
    Mas de todos os zeros à esquerda, o pior é o de ser na vida de alguém!... rsrsrs
    AbraçO

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  4. Há que ter muito cuidado quando se muda de casa, é bem verdade. Decimal ou não :)

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  5. Querida Maria Eu,
    Giríssimo. O que eu gosto de ler textos que me deixam bem-disposto. Para mais, imaginando a graça que lhes achou, também, quem os escreveu.
    Bom dia,
    Outro Ente.

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    1. Muito obrigada! Diverti-me mesmo a dar estas reviravoltas ao zero. :)))

      Beijos, caríssimo Ente, e uma boa tarde. :)

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  6. Gostei muito. Posso deixar ficar este de Manuel António Pina, cujo zero tem outras ambições?
    "A triste história de um zero poeta"
    Numa certa conta havia
    um zero dado à poesia
    que tinha um sonho secreto:
    fugir para o alfabeto.

    Sonhava tornar-se um O
    nem que fosse um dia só,
    ou ainda menos: só
    o tempo de dizer: «Oh!»

    (Nos livros e nas selectas
    o que mais o comovia
    eram os «Ohs!» que os poetas
    metiam nas poesias!)

    Um «Oh!» lírico & profundo,
    um só «Oh!» lhe bastaria
    para ele dizer ao mundo
    o que na alma lhe ia!

    E o que na alma lhe ia!
    Sonhos de glórias, esperanças,
    ânsias, melancolia,
    recordações de criança;

    além de um grande vazio
    de tipo existencial
    e de uma caixa que o tio
    lhe pedira para guardar;

    e ainda as chaves do carro
    e uma máscara de entrudo...
    Não tinha bolsos, coitado,
    guardava na alma tudo!

    A alma! Como queria
    gritá-la num «Oh!» sincero!
    Mas não passava de um zero
    que, oh!, não se pronuncia...

    Daí que andasse doente
    de grave doença poética
    e em estado permanente
    de ansiedade alfabética.

    E se indignasse & etc.
    contra o destino severo
    que fizera dele um zero
    com uma alma de letra!

    Tanta ambição desmedida,
    tanto sonho feito pó!
    E aquele zero dava a vida
    para poder dizer «Oh!»...
    (in Pequeno Livro da Desmatemática)

    Espero não ter sido demasiado atrevida.
    Beijos,
    Mia

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    1. Atrevida, porquê, Mía? Tenho uma grande admiração pelo Pina. Estou a ver, do lugar onde me sento, alguns livros dele. :)
      Obrigada e um beijo. :)

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  7. A relatividade da vida.

    Uma metáfora pertinente.

    Beijo

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  8. Transpondo isso para a vida, triste a do zero, coitado, por muito que queira e tente, não consegue passar de um zero à esquerda..
    Gostei :)

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    1. Talvez fosse melhor dar-se o devido valor e não dar ouvidos às tricas.

      Beijos, GM, e obrigada. :)

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    2. Talvez fosse melhor dar-se o devido valor e não dar ouvidos às tricas.

      Beijos, GM, e obrigada. :)

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