Havia anos que Maria Clara planeava cuidadosamente a sua fuga. Sabia, até, de cor, o que levar na pequena mala azul. Duas mudas de roupa, escova de dentes, creme de rosto, perfume, dois livros (aí, seria difícil escolher) e o poema que um dia lhe escreveram , a caneta azul, numa folha amarelo-desmaiado.
Foi num dia como outro qualquer. Fora trabalhar cedo, almoçara com as amigas, regressara a casa à hora habitual, cumprimentara a vizinha do lado enquanto apanhava a roupa, iniciara o jantar... e, de repente, desligou o fogão, dirigiu-se ao quarto, abriu o armário, pegou na mala azul e saiu.
Não houve bilhete de despedida, nem sms, nem telefonema, apenas um pedaço de carne mal passada na frigideira.