Havia uma menina na varanda, toda ela graça e alegria. Era
uma varanda antiga, numa casa grande, pintada de branco, escancarada
de grandes janelas envidraçadas. Quando o sol vinha e a cobria de beijos, não
havia vidro que não brilhasse, à semelhança dos olhos da menina.
Nem no rigor do Inverno deixavam de se ouvir as gargalhadas
límpidas, percebendo-se, na amurada, o gorro vermelho de lã encimado por um
pompom multicolor.
As árvores, embora a ritmo mais moderado, iam crescendo com
ela (Clarinha, ouvira chamar-lhe) e pareciam inclinar-se para servir-lhe de protecção.
Permitiam-lhe, ainda, ensaiar cantos, em coro com o chilreio do pássaro que,
todos os anos, construía o ninho nesses ramos.
Frondosas, as árvores, fechadas, as vidraças, calado o
pássaro, ausente, Clarinha.
Foram tempos estranhos aos passantes, habituados
que estavam a abrandarem o passo, à escuta.
Até que correu notícia do regresso. O pássaro desatou
num canto tão melodioso e ininterrupto, que era impossível não parar a ouvi-lo.
Ao fundo, uma voz alegre de rapariga, toda ela graça e alegria.
(Lola Marsh - She's a Rainbow)