Carolina começou a tricotar o namorado
na segunda-feira. Queria fazer um boneco da sua altura,
aconchegante, fiel e quieto pois já não vai para nova e não quer
ninguém a encher-lhe a cabeça.
Pronto! Cá está ele! Lindo! Olhos
esverdeados, sorriso abrindo-se em covinhas na face, cabelo castanho escuro! pensou ao vê-lo
pronto. Nessa noite, deitou-se abraçada a ele. És tão macio!
murmurou enquanto se aconchegava nas pregas do crochet e adormecia.
Carolina tinha um namorado. Lindo, fiel
e quieto. E se não fosse tão lindo mas fosse menos quieto? pensou.
E se fosse um namorado que me abraçasse? E se tricotasse vários
namorados e os guardasse na arca do quarto e os fosse usando
consoante o tempo e as necessidades?
Assim se entreteve, daí por diante, a
tricotar enredos de inúmeras peças de amores ardentes à mistura com sexo escaldante e as horas
passaram mais depressa fazendo da solidão uma recordação
longínqua.