Assomou à janela de onde tantas vezes os ouvira chamá-la: Maria! Maria!
Havia ecos de conversas, risos, cantigas, choros... Num dia era menina, brincava nos campos, rebelde, fazendo das árvores casas, navios, aviões, no outro, adolescente sonhadora, livro aberto em horas longas, o coração em sobressalto, ao ritmo das palavras que a faziam adormecer de madrugada, na ânsia de lhes descobrir o fim. Agora, uma mulher a quem marcam finas rugas junto dos olhos, na comisura dos lábios, ainda e sempre de coração aberto às palavras, as dos livros e as que ecoam na casa.
(Madredeus - O Paraíso)