Vive o amor com sofreguidão. Pega-lhe com ambas as mãos, olha-o de frente, bem no fundo dos olhos, beija-o na boca e deixa-te ficar enquanto for o tempo dele.
Era a décima dos irmãos. Bem, julgava sê-lo, porque soubera que tinham sido quinze. Dois nados mortos e três que não haviam resistido a poucos meses de vida. A casa transformara-se quinze vezes em maternidade, com gritos de dor ecoando pelos corredores e mulheres em correrias entre a cozinha e o quarto onde tudo se passava, transportando panelas de água quente e baldes com panos brancos que não tardavam em regressar manchados de sangue e vómito. Contara-lhe uma das irmãs, mais velha vinte anos, que a mãe desaparecia de circulação durante um mês, alimentada a caldos de galinha e bolachas de baunilha.
Bolachas de baunilha? perguntara, de olhos arregalados. Aquilo era luxo que só entrava em casa pela Páscoa!
E bananas! acrescentara a irmã.
Bananas!!! Isso é que era bom!!! A tia Antonieta trazia sempre bananas quando vinha de visita do Porto. Bananas, ananás dos Açores e tabletes de chocolate "A Vianense".
Sacudiu o torpor das pernas debilitadas, esticou-se até às canadianas, e ergueu-se, a custo, do sofá onde passava os dias. Na fruteira da cozinha havia um cacho de bananas da Madeira mesmo no ponto de serem comidas.