(René Magritte)
Sabia que estava vivo. O coração batia, ritmado, e o sangue coloria-lhe as veias que lhe mapeavam o corpo num emaranhado de linhas que, absurdamente, ao invés de vermelhas apareciam azuis na pele branca. Lembrou-se como se cortara com a navalha do pai, uma vez, quando miúdo, para ver se tinha sangue azul. Sorriu. Azul, como o que diziam ter a Rosarinho de Albuquerque, que se sentava na carteira à frente da sua nas aulas de Francês da Madame Rose. Era linda, a Rosarinho! Pena que olhasse todos com um ar tão… altivo.
Sabia que estava vivo. O coração batia, ritmado, e o sangue coloria-lhe as veias que lhe mapeavam o corpo num emaranhado de linhas que, absurdamente, ao invés de vermelhas apareciam azuis na pele branca. Lembrou-se como se cortara com a navalha do pai, uma vez, quando miúdo, para ver se tinha sangue azul. Sorriu. Azul, como o que diziam ter a Rosarinho de Albuquerque, que se sentava na carteira à frente da sua nas aulas de Francês da Madame Rose. Era linda, a Rosarinho! Pena que olhasse todos com um ar tão… altivo.
Sabia que estava vivo, mas não era
capaz de conjugar o verbo être no passé composé e a Rosarinho
ria-se, todos se riam. Até o Petit Patapouf parecia troçar, em
Francês, claro!
- Alberto! chamou uma voz feminina.
Quem seria aquela? Lembrava-lhe
vagamente alguém. Talvez uma colega da turma? Ah! Quase de certeza
que era uma daquelas que se sentavam lá atrás e nunca queriam ir ao
quadro. Sim, uma dessas.
- Alberto! Então? Trouxe-te torta de
cenoura. Tu sempre gostaste da minha torta de cenoura. Raro foi o fim
de semana da nossa vida em comum em que não a fiz para sobremesa.
Estás a falar Francês, homem? Para o que te havia de dar!