Foi numa das suas rápidas incursões à vila para se abastecer de café e sardinha para assar que encontrou Joana.
Havia pelo menos cinco anos que se não viam. Na infância, ambas corriam descalças, sandálias esquecidas ao pé de um qualquer muro, nos campos que ora as escondiam, de grandes as canas enfeitadas de espigas de milho, ora as revelavam ao longe, no meio das folhas rasteiras dos batatais.
Às vezes, atreviam-se a atravessar a estrada para chapinharem na água tépida que lambia a margem do rio, onde os rapazes, sempre mais intrépidos, mergulhavam.
A vida separara-a de Joana aos quinze anos. Partira para a cidade grande, estudara, por lá ficara a trabalhar, enquanto ela se deixara ficar, correndo nos campos de mãos dadas com o José, casando com o António, tendo dois filhos, mulher do lar.
Tão bonita, a Joana. Viram-se ao longe e voaram a apertar-se num abraço.
Foi ao olhá-la no fundo dos olhos que a soube infeliz.
Muito conversaram. Na despedida, perguntou-lhe "Como estás?" e ela, quase em segredo, sussurrou-lhe ao ouvido "Tenho saudades do José!"