sábado, dezembro 05, 2015

Férias grandes

(imagem daqui)

Os dias eram longos nas férias grandes e, no entanto, para Clarinha o tempo era sempre pouco. Levava aqueles dias num corrupio tal que chegava à noite em quebranto de pernas e de braços, chegando a adormecer entre a sopa e o prato principal do jantar. 
-Esta menina não pára! dizia o pai, enquanto lhe pegava ao colo para a ir deitar na cama onde a mãe a despia com cuidado, enfiando-lhe a camisa de noite a custo e metendo-a entre os lençóis.
Mas de manhã, qual passarinho laborioso, Clarinha levantava-se, lava-se num piscar de olhos, vestia os calções e a camisola, calçava as sandálias velhinhas e, bebendo o leite em goles sôfregos, agarrava no pão com manteiga e corria porta fora com um "até logo, mãe" pouco perceptível, com a boca cheia. 
E era vê-la a bater à porta da Dona Arminda e gritar "Oh, Joaninha! Joaninha! Anda brincar!". Depois, já eram duas a correr pela aldeia, batendo às portas do Zé, do João, da Paula e da Diana. Um bando de miúdos enchia os caminhos e os campos de correrias e gargalhadas, apenas interrompidas para o almoço porque o lanche era metido em sacas e saboreado à sombra de uma árvore ou em cima de um muro, sentados, de pernas a bambolear.



30 comentários:

  1. ~~~
    ~ Que liberdade, que alegria, que vitalidade!

    ~~ Música e texto belos e em harmonia...

    ~~~~ Beijinhos amigos. ~~~~~~~~
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

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  2. Os meus verões, em casa da minha avó, eram passados assim. Os dias eram vividos a brincar no exterior, sem controlos ou limitações. A minha liberdade ia até onde as minhas pernas me levavam :)

    Um beijinho, querida Maria

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    1. Fomos, então, muito felizes!

      Beijos, doce Miss Smile. :)

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  3. Que maravilha, eram as férias grandes, a liberdade de poder correr e saltar, apanhar grilos com a palhinha, que se metiam em casinhas amarelas de vermelhod telhados, com a folhinha de alface que a mãe ou uma vizinhava davam, e lá ficávamos, deitados de barriga para baixo pernas a baloiçar no sar, à espera de ver qual o grilo que cantava primeiro. Era uma maravilha ser criança naqueles tempos.
    :-)

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    1. Sem nada que nos impedisse de calcorrear caminhos e pintar a manta! :D

      Beijos, noname. :)

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  4. Que verões tão cheios, tão bons deviam ser esses. Até me dá saudade a mim, que não os vivi (assim).

    Beijo, Maria, bom domingo. :-)

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    1. Ah, mas eu já vi fotos de uma menina com as irmãs em alegre brincadeira numa piscina! Também deve ter sido muito boa a tua infância! :)

      Beijos, Susana, e boa semana. :)

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  5. Que saudades desses Verões.
    Um belo regresso à infância.
    Beijo Maria e bom fim de semana.:))

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    1. Vamos voltar lá as duas? :D

      Beijos, SD, e uma boa semana. :)

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  6. Que férias tão animadas tinhas, Maria! ;)
    Não eras tu? Parecia... ;)
    As minhas não eram assim. Tudo mais calmo e menos alegre.
    Bom domingo!
    Beijos

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    1. As aldeias eram lugares em que era permitido às crianças fazer uma festa de brincadeira todos os dias. Tudo à solta e sem preocupações! Também era eu, sim, Isabel! :D

      Beijos e boa semana. :)

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  7. Penso que conheci a Clarinha...
    Penso, não
    tenho a certeza

    e era com ela
    e com o grupo dela
    que nos deliciávamos
    com os desenhos animados
    aqui mostrados

    (verdade!)




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    1. Claro, Rogério! Então, também te lembras de mim, aquela Maria sardenta, sempre de calções e cabelo atado em rabo-de-cavalo ou tótós. :D

      Beijinhos. :)

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  8. às vezes penso que gastei toda a felicidade na infância, porque realmente era assim, o dia prolongava-se até nos chamarem para jantar, despíamos as peles de índios, cowboys, policias, piratas antes de dormir... boas lembranças :)

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    1. Era, não era, Manel? Mas ainda sobrou alguma felicidade! Procura bem que ela anda por aí à solta!

      Beijinhos,rapaz das tempestades. :)

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  9. As aventuras da Maria, perdão, da Clarinha, postas ao léu no trabalho “Férias Grandes”, fez recordar-me algumas peripécias da minha infância. Tal e qual, sem tirar nem pôr, como na fotografia de entrada, onde vários morcegos figuram dependurados de uma barra. Por questões de oxigenação da moleirinha e aproveitamento da força da gravidade para início de voo, também eu o fiz.
    Há pormenores de somenos no meu caso como o chão ser uma laje de pedra que, certo dia, foi de “somais”: Aconteceu que num movimento inusitado os pés se descuidaram resultando dessa temerária proeza a minha pinha rachada.
    Éramos todos mais felizes do que os putos de agora. Tínhamos a sorte de ter muito mais liberdade. Alguns dos mais velhos diziam ser "rédea solta".

    Gostei muito disto, Maria, por isso,
    Um beijo

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    1. Era uma alegria, não era? Regermo-nos pela hora solar! Dá uma saudade!

      Beijinhos, Agostinho. :)

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  10. Também eram assim as minhas férias, era tão bom, são excelentes recordações.
    bjs

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  11. Que saudades dos verões e das férias grandes da minha infância, tal qual estes. As correrias e a brincadeira o dia inteiro, sem preocupações e responsabilidades, apenas brincar até cair no sono. Beijinho

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    1. Ternura, é a palavra que me vem à cabeça. Ternura e, também, saudade.

      Beijos, GM. :)

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  12. Também tive o prazer de me divertir com essas saídas que nos deixavam de rastos.
    Mas felizes até mais não.
    E na rua, não era encafuados numa qualquer casa,
    Bjs, boa semana

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    1. Bate uma saudade...

      Beijinhos, Pedro, e continuação de boa semana. :)

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  13. Que miúdos felizes, esses.
    Às vezes olho para os meus sobrinhos e vejo-os tão impossibilitados deste liberdade que me dói a infância que estão a perder, em troca de uma protecção quem sabe sufocante e um jogo novo na PSP.

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    1. Triste, a infância sem brincadeiras de rua, sem joelhos esfolados a subir muros e árvores. Mas hoje também há mais perigos, sentimos que precisamos proteger. Um dilema!

      Beijos, Carla. :)

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  14. "Branco, branco e orvalhado,
    o tempo das crianças e dos álamos."

    Eugénio de Andrade/Da Memória

    Um beijo, Maria (rapaz)! :)

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    1. Algumas Proposições com Crianças
      A criança está completamente imersa na infância
      a criança não sabe que há-de fazer da infância
      a criança coincide com a infância
      a criança deixa-se invadir pela infância como pelo sono
      deixa cair a cabeça e voga na infância
      a criança mergulha na infância como no mar
      a infância é o elemento da criança como a água
      é o elemento próprio do peixe
      a criança não sabe que pertence à terra
      a sabedoria da criança é não saber que morre
      a criança morre na adolescência
      Se foste criança diz-me a cor do teu país
      Eu te digo que o meu era da cor do bibe
      e tinha o tamanho de um pau de giz
      Naquele tempo tudo acontecia pela primeira vez
      Ainda hoje trago os cheiros no nariz
      Senhor que a minha vida seja permitir a infância
      embora nunca mais eu saiba como ela se diz

      Ruy Belo

      Beijos, Teresa. :)

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  15. Fizeste quase a descrição fiel dos meus Verões no Alentejo, com o meu bando de primos.
    E o pão com manteiga, Maria, o pão com manteiga... que instituição! Terá caído em desuso?
    Obrigada por esta viagem tão boa :)

    Beijos, querida :)

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