Ao sexto dia de clausura, já não tinha uma janela debruçada sobre o jardim dos mortos. Para trás ficaram as gerberas, as hidranjas e os fetos, não mais entrançados ou orgulhosamente erectos, antes tombados e em desarranjo, varridos pelo vento. Nesses dois dias de diferença, não avistara casacos coloridos. Dera conta, sim, de muitos casacos negros, todos juntos e em passo lento, seguindo um féretro. Também eram portadores de flores, o que tornava o cortejo fúnebre estranhamente alegre, pontuado por manchas coloridas de grandes coroas e ramos. Pensara para com os seus botões, não muitos porque o vestido era de fecho e só tinha dois na gola, que fazia falta uma banda naquela cerimónia. Uma coisa ao estilo de Nova Orleães, com clarinetes, saxofones e violinos, muitos cânticos e dança bastante.
Mas agora, a janela, bem, era mais uma porta com varanda a bordejá-la,tinha toda uma outra vista. Sentou-se e, de chávena de chá de rooibos na mão, deu por si a olhar as centenas de outras janelas e portas envidraçadas que se perfilavam mesmo ali ao pé. Algumas quase pousavam na copa das árvores, enquanto outras ficavam bem acima da sua linha de visão, outras, ainda, quase pareciam um prolongamento da sua. Nunca se pensara a olhar os outros por detrás dos vidros. A clausura aguçara-lhe a curiosidade. Ocupava-se de pequenos nadas que iam do carreiro imenso de formigas em equilíbrio no varandim, até ao polícia que multava afanosamente os automobilistas prevaricadores das regras de estacionamento no largo bem defronte.
Sorveu mais um gole de chá, levantou-se, e deixou os vizinhos tranquilos.
Estava a gostar destas observações.
ResponderEliminarVão continuar??
Mantendo-se a clausura, quem sabe continuam?
EliminarBeijinhos, Pedro, e obrigada. :)
Muito bonito, Maria.
ResponderEliminarPor vezes, penso se a vida dos outros não será sempre uma vida atrás de uma janela.
Um beijinho e um dia feliz :)
Tantas vidas não saem detrás de janelas!
EliminarMuito obrigada, Miss Smile!
Beijos e muita luz.:)
Há quem passe a vida a olhar através de uma janela.
ResponderEliminarJ.S. Bach? Uau!
Beijinho, Maria Eu.
Muita mais gente do que possamos imaginar, Observador!
EliminarBach anda por aqui, a par com muitos outros. :)
Beijinhos, Observador. :)
Votos de Feliz Natal,
ResponderEliminarAG
Muito Boas Festas para ti, também, AG!
EliminarBeijinhos. :)
Maria, embora a clausura não te tenha afetado a inspiração, espero que não tenha sido contrária à tua vontade :)
ResponderEliminarBeijinhos para ti :)
Clausuras demoradas só são da vontade das freiras e dos monges, às vezes nem desses! ;)
EliminarBeijinhos, Ness, e muito obrigada. :)
A clausura dá-nos outra perspectiva da vida lá fora :)
ResponderEliminarMuito bonito.
Beijos Maria
SEm dúvida, I!
EliminarObrigada, menina dos pés feridos.
Beijos. :)
Gosto tanto de estar à janela!
ResponderEliminar(E que belo estendal aí tens).
Mulher do estendal, tu sabes da poda! E também me deste o mote para o post seguinte, obrigada!
EliminarBeijos. :)
Há janelas indiscretas que guardam no reflexo das vidraças delicadas apreciadoras de tisanas vermelhas de Boa Esperança.
ResponderEliminarBeijinhos Maria.
Quantos reflexos, Luís!
EliminarBeijinhos. :)
Que a clausura nunca te tolde a visão, muito menos as palavras. Que bonito Maria. Beijinho
ResponderEliminarMuito obrigada, GM! Do fundo do coração!
EliminarBeijos. :)
Gostei imenso da continuação. O valor que se vai dando a tudo que antes nem sequer se reaparava.
ResponderEliminarBeijinhos Maria
Tu também o podes fazer, pelo que percebi. :D
EliminarBeijos, Maria da Neves! :P
.. e assim sequestrados no paraíso
ResponderEliminardezembramos
Dezembramos e quase consoamos.
EliminarBeijinhos, MA. :)
Eu gostava que continuasse :)
ResponderEliminarE não é que continuou? De forma inesperada, é certo, e sem janela.
EliminarBeijos, Laura. :)