domingo, outubro 19, 2014

Nem sempre viver, nem sempre morrer

(Isabel Barranco)
Viver sempre também cansa!


"Viver sempre também cansa!
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinza, negro, quase verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.
O Mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.
As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.
E há bairros miseráveis, sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...
E obrigam-me a viver até à Morte!
Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois, achando tudo mais novo?
Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.
Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
"Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela."
E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo..."


(José Gomes Ferreira)


E às vezes queres morrer
Queres fenecer, sei lá
E às vezes já não queres
Morrer, quero dizer
Talvez queiras dormir
Num sono demorado
Protelar o devir
Preferindo sonhá-lo...

(Maria Eu)


 

12 comentários:

  1. Hoje é um dia em que as minha palavras, mesmo se poucas, seriam excessivas

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    1. Impossível! As tuas palavras NUNCA são excessivas!

      Beijinhos Marianos, Rogério! :)

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  2. Que esforço manter-se uma pessoa viva. Erguer um monumento não exige que se gaste tanta força...:)

    Muitos Parabéns Maria, pelo seu Blog:))

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    1. Se é, Legionário!

      Muito obrigada, por tudo. Pelo carinho, pelo respeito, pela presença "antiga"!

      Beijinhos Marianos! :)

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  3. Eu não queria morrer por seis meses, mas morro um bocadinho se me apetecer. Não é difícil de fazer, aprende-se quando se quer deitar alguma coisa para fora da nossa vida, morremos dela. E voltamos a nascer logo a seguir, com mais frescura. :-)
    Percebo perfeitamente este autor (e adoro o que escreves, Maria!)

    Beijinhos de vida. :-)

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    1. Se calhar não é morrer que queremos, é matar o que não está bem! :)

      Beijinhos Marianos e muito obrigada, Susaninha! :)

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  4. Belíssimo poema! Obrigada poe esta partilha!

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    1. Obrigada, Brisa do Sul, pelas palavras e pela presença! :)

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