(Herb Ritts)
"observo todo o meu corpo sem julgamentos, tacteando as memórias de que é feito. logo abaixo da virilha direita, um corte pouco profundo, que não sei de onde surgiu. a cicatriz, rubra, é recente. descendo pelas coxas, encontro mais alguns arranhões, já quase imperceptíveis, que não me merecem muita atenção. deslizo os dedos pelo joelho, sinto o despontar de alguns pêlos, não me importo, e continuo até à barriga da perna. a pequena circunferência arroxeada, que também não me lembro onde me veio, dói-me, ao toque mais profundo. pressiono com força, como uma louca teimosa.
imagino então se alguém me visse assim, marcada, à luz clara da nudez, e envergonho-me de mim."
Texto de a faca não corta o fogo
Há muito que evito observar o meu corpo por ser incapaz de o fazer sem julgamentos. A pele do peito, logo ali, entre as mamas, que se enruga ligeiramente do peso que carrega, pintalgada de sinais, a barriga que deixou de ser lisa, a cicatriz que a cruza, encimando a zona púbica, originado uma prega, a progressiva flacidez das coxas, os tornozelos inchados.
Vem-me uma estranha e súbita vergonha da minha nudez, ainda que seja uma nudez solitária.
sabes o que mais me encanta neste mundo virtual, menina poesia em corpo de mulher?
ResponderEliminarficar mais perto da alma de cada um.
a tua é sensual.
é isso mesmo, flor :)
EliminarFico aqui, em frente ao ecrã, a tentar responder-vos... Curioso, ambas me julgarem assim, precisamente num texto que outros interpretaram como negativo. Viram-me.
EliminarBeijos a ambas. Obrigada po restarem aqui. :)
todo o nu tem a sua beleza.
ResponderEliminarum beijo Maria
Todas as pessoas têm a sua beleza, Laura, sim.
EliminarBeijos :)
Maria, nu e cru, adorei :))
ResponderEliminarComo um corpo.
EliminarObrigada, Legionário. Tem um óptimo fim-de-semana, quem sabe Esposende te espera?
Beijinhos :)
Tinha lido a Flor, e ficado agarrada àquelas palavras, como sempre fico.
ResponderEliminarE agora, as tuas, tão tocantes também.
Dessa cicatriz que falas, também eu comungo. As minhas cicatrizes contam a minha história mais íntima, mas também mais indelével. E, de alguma maneira, gosto delas, uma a uma.
Beijos, linda.
:)
Somos feitas destas pequenas marcas, umas que nos lembram coisas maravilhosas, outras que nos irritam... Somos nós, em suma.
EliminarBeijos, Lindona :)
Quando a flor fez essa publicação, tive imensa pena de não poder comentar, pela lucidez e pelo discurso escorreito.
ResponderEliminarMaria, e agora vêm as tuas palavras, como que a fazer o contraponto.
Fica um beijo (para perderes a vergonha!)
Ah, mas a vergonha é temporária. :))
EliminarBeijos, Isabel :)
Haverá quem consiga passar pela vida sem uma única cicatriz!?
ResponderEliminarBeijinho Maria :)
Creio que não, Té.
EliminarBeijos :)
Maria e Flor, a verdade é que o intelecto, por vezes, atinge uma beleza tal que corpo algum poderá jamais alcançar...
ResponderEliminarAbraços
Concordo plenamente, Impontual.
EliminarBeijos :)
Mariamiga
ResponderEliminarVim até cá por "culpa" do Ruiamigo (da Fonte) E vim encontrar um blogue muito bom, Parabéns!
Olá!
Depois de enormes confusões, de muitas decepções de várias ocasiões de desespero e na alternativa de me suicidar, que não me pareceu muito saudável, decidi continuar – e por isso aqui estou.
Pensei tomar 25 gramas de raticida diluído em ácido sulfúrico, com umas pitadas de arsénico; simultaneamente cortaria os pulsos e atirava-me da ponte 25 de Abril e durante a viagem até chegar ao Tejo daria um tiro na mioleira; como complemento e para ficar seguro de que não o meu cadáver ficaria absolutamente falecido, e na mesma altura enforcava-me. Sair-me-ia caríssimo. Desisti.
Por isso repito o que venho dizendo muito empenhado (já nem tenho cotão nos bolsos): A Nossa Travessa está à disposição total, inultrapassável e inadiável. É http:///anossatravessa.blogspot.pt onde fico à espero de muitas visitas e muitos comentários. Obrigado
Qjs (queijinhos) = (beijinhos)
Leãozão
Obrigada, Henrique.
EliminarBeijinhos :)
Maria, minha querida, fiquei um pouco triste com a carga negativa do vosso "desabafo". Sabes que o corpo com os anos cresce, muda, e amadurece como eu digo, e não se compadece com os efeitos naturais da gravidade.
ResponderEliminarA mulher é sempre uma escultura bela em qualquer idade, Maria. E o mais importante é olharmos-no ao espelho e gostar-mos de nós, mesmo com as marcas de imperfeição que o tempo imprime ao nosso corpo.
Eu gosto do meu corpo e olha que a flacidez começa a ser notória, até brinco que ando a ficar com as peles ao dependuro.
Vá Maria, arrebita rapariga, tu és uma mulher linda:)
Beijinho grande.
Sandra, concordo em absoluto :)
EliminarMas eu estou arrebitada! :) Este texto reflecte aquilo que eu acredito muitas mulheres e homens sentem de quando em vez. Não acredito que se goste sempre do corpo que se tem. Não acredito que não haja um olhar de esguelha para o espelho quando se vê aquela barriguinha, a nova ruga, mais um cabelo branco. Mas isso não significa que seja sempre assim.
EliminarBeijos a ambas :)
Uma vez disse a uma pessoa disto dos blogs que isto é o que mais se assemelha à ideia de como seria, a existir, o Paraíso, aqui não existem corpos a distrair-nos, aqui estão só almas à conversa, e algumas parecem-me lindas de morrer, como é o caso da tua por exemplo, aqui acontece a cedência do protagonismo à tal de beleza interior, para os que fingem não saber o que é, continuo o comentário em jeito de pergunta, é a isto que se chama beleza interior, não é? Esta percepção de beleza que nos atinge, esta inexistência de dúvida de pessoa linda que nem sequer precisa do instrumento corpo para nada para cativar, esta é a beleza que ilumina para além da falibilidade do corpo e não precisa de maquilhagem nem nada.
ResponderEliminarNo entanto, mentia-te se dissesse que não tenho uma certa vaidade, mentia-te se dissesse que não tenho qualquer problema com a chegada da altura em que o meu corpo irá começar a desmoronar, tenho até medo de não saber lidar muito bem com isso, mas o engraçado disto é que, mesmo de verdade, para mim uma alma atraente sempre ofuscou completamente a ponto de, por vezes, transformar mesmo em muito feio, um corpo atraente com uma alma que eu considerasse não lá muito bonita.
Beijinhos, Maria.
Querida Cláudia, sinto isso mesmo. Aqui só há almas e, ainda por cima, podemos escolher aquelas com as quais queremos dialogar. Confesso, ainda, que me atraem muito mais pessoas interessantes do que as que são, apenas, bonitas. Já dei por mim encantada com alguém considerado feio depois de o ouvir falar. Enchia a sala de beleza!
EliminarEnvelhecer dói? Dói, pois. Mas aguenta-se!
Beijos, menina linda :)
As marcas e as cicatrizes contam uma história de vida. Olhar para o nosso corpo e aceitar que ele muda não é tarefa fácil.
ResponderEliminar:)
Nunca será. Compensêmo-lo com muita sensualidade e inteligência!
EliminarBeijos, JT :)
~~~
ResponderEliminarEu lamento as diferenças, mas só ocasionalmente.
Continuo a gostar de mim, felizmente.
Realmente, tão cru!
~ Beijinho, ME.
~~~~~~~~~
Mas eu gosto de mim. De vez em quando, faço caras feias. Não me digas que nunca as fazes!
EliminarBeijos, Majo :)
Eis dois textos bem femininos
ResponderEliminarnão pelos corpos descritos
mas pela alma com que os descreve
(a partir de hoje
"a faca não corta o fogo"
passou a ter mais um leitor)
É um blog de uma sensibilidade extraordinária, Rogério. Ainda bem que o encontraste.
EliminarBeijinhos :)
Olhemos para a nossa nudez e para as suas marcas de vida com a certeza de que já vivemos muito, cada cicatriz, cada marca tem uma história, uma época no tempo. No nosso tempo. Beijinho Maria :)
ResponderEliminarOlhemos a vida correr em nós!
EliminarBeijos, GM :)
Rick Forrestal,
ResponderEliminardou you really get a word out of whaat Maria writes/is writing?
*What, obviously.
ResponderEliminarAcho que o Rick gosta das minhas escolhas musicais e das ilustrações. :)
EliminarBeijocas, menina Martini :)
O corpo vai envelhecendo connosco.
ResponderEliminarNão é grave, é normal.
Claro que é normal! Embora chato, por vezes. ;)
EliminarBeijinhos, Pedro :)
"Esse que em mim envelhece
ResponderEliminarassomou ao espelho
a tentar mostrar que sou eu.
Os outros de mim,
fingindo desconhecer a imagem,
deixaram-me a sós, perplexo,
com o meu súbito reflexo.
A idade é isto: o peso da luz
com que nos vemos."
Mia Couto, O Espelho
Agora, apetecia-me dar um abraço apertado às duas. Sois lindas :)
Beijinhos :)
Acho que posso falar pela Flor. Nós também te dávamos um abraço, agora. És linda! :)))
EliminarBeijos :)
Desde que nascemos o tempo grafita-nos o corpo de estórias e rotinas. Depois vêm os sinais que perfiguram a rebelião interna que, mais cedo ou mais tarde, acontece a pintalgar-nos de negro e castanho e as linhas azuis anunciam transvases dos rios vermelhos?! Por fim, após décadas de luta, vem o tempo das tréguas e, por cansaço ou distração, sobrevem a temida erosão.
ResponderEliminarMas, de alma limpa permaneces incrivelmente a brilhar no teu corpo de certezas. Que beleza, Maria: a evolução estética.
Bj.
O brilho que se sente de dentro para fora. Principalmente no olhar.
EliminarBeijos, Agostinho :)
Quem, de entre todos nós terá ainda um corpo verdadeiramente imaculado, sem algum tipo de cicatriz ou marca, ou mais ou menos ruga ? ...
ResponderEliminar"Por que raio" é que haveremos de estar sempre a procurar pequenas coisas de que não gostamos nos nossos corpos ? ... São inevitáveis e generalizadas !
Beijinhos ! :)
Ninguém, Rui. É assim mesmo, viver. Sem escamotear o que temos de pior e de melhor.
EliminarBeijinhos :)
o corpo humano é tão perfeito em toda a sua complexidade que cada defeito o torno ainda mais único :)
ResponderEliminarVerdade, Manel!
EliminarBeijocas :)
Conheço bem o sentimento.
ResponderEliminarUm beijo, Maria! :)