domingo, abril 17, 2016

Treze anos

(Balthus)


Descobrira que tinha um coração diferente. Treze anos. Crescera inusitadamente esse Verão de férias grandes. Mas eram mesmo grandes, as férias, com Junho, Julho, Agosto e Setembro adentro, num frenesim de correrias, jogos da macaca, do esconde-esconde e da cabra-cega, sorvetes da Rajá, língua da sogra e perseguições ao Nelinho da Tina que lhe chamava "minha beleza", provocando uma saraivada de pedras apanhadas no caminho. Mas, como estava a dizer, o seu coração não era o mesmo. Dava por ele a descompassar. Ora, o descompasso não era permanente, dava-se aquando Carlos José se lembrava de atalhar o caminho para o rio e passava mesmo ali, à beirinha da sua varanda. Então quando resolvia desviar o olhar para cima e abrir um sorriso... Jesus! É que até tinha que respirar fundo, não fosse o coração saltar-lhe do peito!



38 comentários:

  1. Primeiro amor desacerta o coração. :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O amor é um desacertador de corações, seja qual for.

      Beijos, Luísa :)

      Eliminar
  2. Arritmias e sobressaltos dos bons, Maria, e acompanhados com a Etta Jones melhor ainda. :)

    Tem uma boa semana.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Uma boa música ajuda à "mood"!

      Beijos, Ava, e um bom fim-de-semana :)

      Eliminar
  3. Não só o coração, Maria.
    É por essa altura, sim, quando se descobrem os prodígios da anatomia.
    Prosa deliciosa a revelar os sentimentos fortes do crescer.

    Bj

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Clara era ainda uma menina muito ingénua, Agostinho. Para ela, Carlos José era uma espécie de cavaleiro saído de um romance.
      (obrigada)

      Beijinhos :)

      Eliminar
  4. A idade da minha filha Mariana.
    Que creio ainda não encontrou o seu primeiro amor.
    Boa semana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Se é que a esta "emoção" se podia chamar amor... :)

      Beijinhos, Pedro, e um para a Mariana :)

      Eliminar
  5. Patologias que valem a pena.
    Beijos, Maria!

    ResponderEliminar
  6. Maria, estas primeiras paixões costumam ter um considerável componente platónico...é o despertar do próprio “eu”, maravilhosas descobertas :))

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Exactamente, Legionário, até porque nesta idade só se ouve o bater do coração...

      Beijinhos, Legionário :)

      Eliminar
  7. ~~~
    O saudável e delicioso despertar...

    Em sentidos sobressaltos...

    Ótima semana, ME.

    Beijinhos.
    ~ ~ ~ ~ ~

    ResponderEliminar
  8. Que saudades do meu primeiro amor...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O primeiro amor é sempre recordado como uma espécie de iniciação à vida.

      Beijinhos, Jorge :)

      Eliminar
  9. Idade em que o amor desponta e que curioso ele se apresenta nestas idades !... Uma nova sensação nunca sentida nem esperada e quando surge, ... sentimos-nos diferentes, coração descompassado, ... a idade em que os/as adolescentes se começam a "aperceber" que afinal os pais não sabem nada, estão desactualizados e são velhos, mais do que pensam ! hehe
    Já por lá passamos ! rsrs

    Beijinhos ! :)) ...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tão palpitantes, os corações. Tão baralhadas as cabecitas... ;)

      Beijinhos, Rui :)

      Eliminar
  10. Ui, os amores que despertam pelos treze anos!! Fortes e marcantes. Ainda hoje tenho presente o meu!

    Lindo texto, Maria Tu!! Lindo texto!

    Beijinho.

    ResponderEliminar
  11. E, às vezes, o coração salta mesmo do peito para se perder no coração de alguém.
    Que bom recordar Etta James! Perdi-me tantas vezes a ouvir esta música (suspiro)!

    Um beijinho, Maria :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois salta, o grande maluco! :)
      A Etta é qualquer coisa mesmo!!!

      Beijos, querida Miss Smile :)

      Eliminar
  12. O teu pedaço de escrita capta bem a temática do Balthus. Gosto da vide a vir ver a luz.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Há, em Balthus, uma sexualidade latente.
      Também gostei de ver aquele tornco cinzento e aparentemente sem vida a ser rompido pela vide atrevida!

      Beijinhos, Luís :)

      Eliminar
  13. A idade da passagem para mulher :)
    É tão esquisito, e tão bom.
    Mas o coração, esse, fica sempre da mesma idade: com 13, pois.
    Beijos, Mary :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Dá aquela saudade de sentir tudo em atropelo, não dá?

      Beijos, Lindinha azul :)

      Eliminar
  14. impressão minha ou as férias eram realmente bem mais longas que agora? :)

    ResponderEliminar
  15. Nesse tempo as férias ainda eram como as paixões...
    :)

    ResponderEliminar