Desde sempre que Maria se habituara a esperar.
Ajustava o corpo ao sofá que começara por ser castanho-escuro com flores e, de ano para
ano, clareara até um bege desmaiado, onde as ramagens teimavam em resistir.
Esperara por José, quando ele se atrasava para o jantar.
Esperara por ele, ainda, noite dentro, adormecendo em leituras longas.
Esperara, em vão, quando ele saiu para uma viagem curta de trabalho e nunca
mais voltou.
Esperara pelos filhos, nos dias que o verão prolongava até
as estrelas esmaecerem. Esperara por eles sem sucesso, tantos fins-de-semana, a
solidão a morder-lhe os olhos em lágrimas.
Esperara pela morte, sem medo, até que ela veio, em jeito
terno, levando-a ao colo.
Joana apaixonou-se pelo sofá, assim que o viu na montra da
loja do Sr. Joaquim dos estofos.
Tão bom que deve ser para esperar, pensou!
(Mísia - Sem saber)
"bem pode esperar sentado" neste caso sentada. Mas parece tal contexto ser injusto para a Maria. Falta falar de quando se levantava. Também pode ser uma contemplativa e enquanto esperou esteve a rezar pelo bem no Mundo e assim as coisas não foram tão más como poderiam ter sido.
ResponderEliminarAssim creio, Luís! Há sempre o "levantar"!
EliminarBeijinho :)
Há histórias que se repetem, começando sempre pelo aconchego de que tudo vai correr bem.
ResponderEliminarÀs vezes é preciso não ter medo de colocar o dedo na ferida. Sem (ou com pouca) anestesia.
Fique bem, Maria.
E há, também, a possibilidade de mudar a história...
EliminarBeijinho, AC :)
Viver-se de esperança pode levar a fins tristes.
ResponderEliminar.
Tenha um dia de Paz e Bem
Cumprimentos poéticos
Enquanto houver esperança, a tristeza dilui-se.
EliminarBeijinho, RYk@rdo :)
Só há uma palavra mais deprimente
ResponderEliminarque a palavra "espera",
a "esperança"
quem mais fala nela
apenas espera
(detesto sofás!)
Mas é a esperança que ajuda na espera...
EliminarBeijinho, Rogério :)
Esperar.
ResponderEliminarVejo tanta gente à espera.
A maioria à espera de morrer.
Bjs, bfds
Haja esperas que terminem em coisas boas, Pedro!
EliminarBeijinho :)
Tantas situações como a da Maria acontecem neste pais, a solidão e a espera, ambas muito angustiantes.
ResponderEliminarOlá, Maria:)
Solidão injusta, essa, a não ser que apreciada.
EliminarBeijinho, Legionário :)
esperar na solidão leva mais tempo
ResponderEliminarabraço
Leva sim, alfacinha!
EliminarBeijo :)
Ela esperou, mas sem esperança... Uma história muito bela, mas muito triste. Paula Rego maravilhosa.
ResponderEliminarUma boa semana com muita saúde.
Um beijo.
A espera de tantas mulheres...
EliminarMuito grata, Graça!
Muita saúde para si, também, e um beijo. :)
Ó Joana, tu não me compres esse sofá, rapariga, não faças isso, por favor, esse sofá está cheio de tristeza...
ResponderEliminarNão fiques sentada, à espera; experimenta caminhar um pouco, vai valer a pena...
Gostei de ouvir o fado com esses instrumentos menos convencionais.
Beijinho.
🌻
Maria (das estevas)
Não sei, Maria! Talvez a Joana consiga transformar o destino de quem se sentar nesse sofá.
EliminarBeijos :)
Compra o sofá, Joana, mas nunca esperes; aprende a criar a partir dele!
ResponderEliminarAbraço, Maria
É isso, Maria João! :)
EliminarBeijo :)
Há no amor esperas desesperantes para os que explodem como estrelas, dando origem a novas.
ResponderEliminarA preservação da ilusão, a conformação com as sinas escritas na mão, levam a que tudo o que envolve o resignado vá esmaecendo cores, cheiros...
Boa escrita tens tu nas mãos que nunca esperam.
Beijo, ME.
Impressionante é o traço pictórico que foste buscar a Paula Rego, outra leitora e intérprete d'almas.
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