Lembras-te, mãe, daquela vez em que estranhaste o silêncio da traquinas de três anos e a foste encontrar sentada no chão da cozinha, portas do armário escancaradas, a tirar os ovos que as galinhas tinham posto nos últimos quinze dias e a parti-los, um a um, numa alegria pintada de gema de ovo?
E de como não pudeste ralhar-lhe, quando te olhou com ar contrito e disse, fazendo beicinho: a menina é má!
Lembras-te, mãe, quando costuravas calções e bibes cheios de bolsos para caberem neles pedrinhas, caricas, flores, carrochos e todo um mundo de pequenas coisas com que enchia as fantasias de menina de sete anos?
Lembras-te, mãe, das noites de tosse funda nas quais me adoçavas o peito com xarope de cenoura e a alma com as tuas mãos ternas?
Lembras-te, mãe, quando, aos dezassete, quis ir ao baile de finalistas e o pai não deixou? Fizeste uma coisa subversiva, mãe! Assinaste tu a autorização e, não contente com isso, compraste-me uma roupa nova para eu ir dançar.
Lembras-te, mãe, quando te contei do primeiro namorado e tu só me disseste para ser feliz?
Lembrar-me-ei por ti, mãe...
(Dhafer Youssef - Soupir Eternel)
Pensar,
ResponderEliminarrecordar,
tecer memórias...
Nós somos a memória que temos
Nós somos a mãe que tivemos
(percebo que há aqui uma data,
há sempre uma data por detrás
de uma canção dorida
- eu fui ouvi-la)
Há uma data, demasiado próxima e dolorosa...
EliminarBeijinhos, Rogério, e obrigada!
Que ternura!!
ResponderEliminarMãe. Filha, Ternura que perdurará na memória.
EliminarBeijinhos, Pedro.
São essas memórias de amor que a farão eterna.
ResponderEliminarUm abraço de mãe, de filha, de irmã, agora.
(Dói tanto...)
Dói muito...
EliminarObrigada, Linda, e outro abraço.
Belo. Dolorosamente belo.
ResponderEliminarDela, restarão as recordações, sempre.
EliminarBeijinhos ,Luís, e obrigada.
Doces memórias :)
ResponderEliminarBeijinho
Dulcíssimas, GM!
EliminarBeijo
Sabes Maria, por outras palavras também poderia dedicar este teu texto ao meu Pai, pois faz hoje uma semana que foi o seu funeral:(
ResponderEliminarPerdemos, ambos, um arrimo... :(
EliminarUm grande abraço solidário, Legionário.
"Poema à Mãe
ResponderEliminarNo mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...
Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
Eugénio de Andrade, in "Os Amantes Sem Dinheiro"
https://www.youtube.com/watch?v=w8bk9_nzLcM
(No sorriso louco das mães; Herberto Helder)
E apesar das diversas diferenças que entre nós dois há; partindo da idade e do que tudo isso acarreta, saber exactamente o que sentes e como dói.
Ficam as memórias, sem dúvida. Uma dádiva inestimável.
um abraço muito apertado.
Ficam, sim.
EliminarDói muito, como sabes.
Outro abraço, H74
As recordações que temos da nossa mãe duram a vida toda… Um texto ceio de ternura e muito belo.
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.
Somos uma extensão dela.
EliminarBeijo, Graça, e obrigada.
Que texto ma-ra-vi-lho-so !!! Transpira ternura nos dois sentidos !
ResponderEliminarParabéns, Maria !
Beijinhos :**
Nestes dias, as memórias do tempo com a minha mãe não me deixam lugar a mais nada.
EliminarObrigada, Rui, e um beijo.
Doces lembranças, essas...
ResponderEliminarBoa terça-feira!
Beijo
Sempre, LA!
EliminarBeijo e obrigada.
Muito bonito Maria ! Um beijinho de solidariedade.
ResponderEliminarMuito obrigada ,Ricardo!
EliminarBeijinhos
Belíssimo texto que nos faz retroceder ao início da aventura das tropelias ou avarias do tempo que cresce(ia) desde o gatinhar. A descoberta das coisas, da conquista dos sentidos e dos afectos, do refúgio do colo de Mãe, de "Mãe e" que é tudo, é mais que tudo, sempre atenta, sempre de vela, cúmplice da menina.
ResponderEliminarBeijo, Maria Eu
As mães nunca deviam morrer...
EliminarBeijinhos, Agostinho, e obrigada.
Dois textos seus e já sou fã
ResponderEliminarNão é que sou fácil, mas você sem esforço me conquistou.
Muito obrigada pelas suas palavras!
EliminarSeja bem-vindo!
Se tivesse de falar agora (sem ser com as pontas dos dedos espetados no teclado) asseguro-te que não me ouvirias nem um fio de voz...
ResponderEliminarBeijos renovados Amiga
🌹💙
Eu sei...
EliminarBeijos, Clarinha