Eram tempos difíceis. Os dias escorriam por paredes cinzentas, onde pontuavam janelas estreitas, com vidros sujos, que nem sequer coavam a luz, antes a transformavam em nuvens carregadas de poeira densa e opaca.
Costumava fingir que o relógio em cima do armário funcionava. Dava-lhe um certo consolo que os ponteiros marcassem uma hora tão próxima daquela em que, finalmente, abandonava o edifício, pesasse, embora, o engano permanente da avaria.
Naquele dia, amanhecera com um estranho apetite de outras paragens. Prudentemente, levou uma mala de viagem.
Quando, uma semana depois, estranharam a sua falta e resolveram abrir a mala que repousava junto do relógio, descobriram-na lá, em posição fetal, abraçada a um livro de poemas.
Acabo de perceber
ResponderEliminarporque, quando viajo
apenas levo
bagagem de mão
e um único poema
enfiado na algibeira
Assim, nunca darão por minha falta
Um texto muito interessante, Adorei :))
ResponderEliminarHoje :- Ritual, entre a natureza e o amor
Bjos
Votos de uma óptima Sexta - Feira.
Que viagem! Quem poderia imaginar o que ia encontrar na mala?
ResponderEliminarQue seja excelente o fdsm que se avizinha!
Foi com certeza uma viagem fantástica. Daquelas que os livros nos fazem viver :)
ResponderEliminarBjs Maria Tu
uma grande viagem sobre si mesma!
ResponderEliminaruma mala não devia ter rodas, mas asas
um abraço, Maria
"resolveram abrir a mala que repousava junto do relógio, descobriram-na lá, em posição fetal, abraçada a um livro de poemas" ... quero ver se largo essa posição. Nem livros, nem poemas..
ResponderEliminarOlá! :)
Beijinhos
O que cabe dentro da mala?
ResponderEliminarSão tantos sonhos que já não cabe mais nada!
Boa semana, Maria:)
Magnífico texto! Do ponto de vista metafórico pode ter inúmeras interpretações. Agrada-me pensar que viajou por dentro de si própria inspirada pela poesia.
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.
Maria, continua este texto, pf. Se calhar é um extrato de coisa grande, desconfio...
ResponderEliminarAdmiro a beleza que imprimes ao movimento das palavras na acção. A estética dos traços aparentemente leves mas com uma força imensa, que arrebata. Tão bom que até faz cócegas na barriga!
Quero mais!
Bj.
E que viagem, de facto!
ResponderEliminarNem de propósito ter vindo hoje ler-te aqui!
A foto é um espanto e tu soubeste-a interpretar com mestria!
(podiam-me ter dado este texto para ler sem qualquer contexto... que eu saberia de imediato que tinha sido escrito por ti)
Levo-te um beijinho quando te for esperar à estação
(^^)