sexta-feira, janeiro 11, 2019

Viagem

(Damian Hovhannisyan)

Eram tempos difíceis. Os dias escorriam por paredes cinzentas, onde pontuavam janelas estreitas, com vidros sujos, que nem sequer coavam a luz, antes a transformavam em nuvens carregadas de poeira densa e opaca.
Costumava fingir que o relógio em cima do armário funcionava. Dava-lhe um certo consolo que os ponteiros marcassem uma hora tão próxima daquela em que, finalmente, abandonava o edifício, pesasse, embora, o engano permanente da avaria.
Naquele dia, amanhecera com um estranho apetite de outras paragens. Prudentemente, levou uma mala de viagem. 
Quando, uma semana depois, estranharam a sua falta e resolveram abrir a mala que repousava junto do relógio, descobriram-na lá, em posição fetal, abraçada a um livro de poemas.


10 comentários:

  1. Acabo de perceber
    porque, quando viajo
    apenas levo
    bagagem de mão
    e um único poema
    enfiado na algibeira

    Assim, nunca darão por minha falta

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  2. Um texto muito interessante, Adorei :))

    Hoje :- Ritual, entre a natureza e o amor

    Bjos
    Votos de uma óptima Sexta - Feira.

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  3. Que viagem! Quem poderia imaginar o que ia encontrar na mala?
    Que seja excelente o fdsm que se avizinha!

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  4. Foi com certeza uma viagem fantástica. Daquelas que os livros nos fazem viver :)
    Bjs Maria Tu

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  5. uma grande viagem sobre si mesma!

    uma mala não devia ter rodas, mas asas


    um abraço, Maria

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  6. "resolveram abrir a mala que repousava junto do relógio, descobriram-na lá, em posição fetal, abraçada a um livro de poemas" ... quero ver se largo essa posição. Nem livros, nem poemas..

    Olá! :)

    Beijinhos

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  7. O que cabe dentro da mala?
    São tantos sonhos que já não cabe mais nada!

    Boa semana, Maria:)

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  8. Magnífico texto! Do ponto de vista metafórico pode ter inúmeras interpretações. Agrada-me pensar que viajou por dentro de si própria inspirada pela poesia.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  9. Maria, continua este texto, pf. Se calhar é um extrato de coisa grande, desconfio...
    Admiro a beleza que imprimes ao movimento das palavras na acção. A estética dos traços aparentemente leves mas com uma força imensa, que arrebata. Tão bom que até faz cócegas na barriga!
    Quero mais!
    Bj.

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  10. E que viagem, de facto!
    Nem de propósito ter vindo hoje ler-te aqui!
    A foto é um espanto e tu soubeste-a interpretar com mestria!
    (podiam-me ter dado este texto para ler sem qualquer contexto... que eu saberia de imediato que tinha sido escrito por ti)

    Levo-te um beijinho quando te for esperar à estação
    (^^)

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