domingo, fevereiro 18, 2018

Menino


(Paul Bond)


Carlos envelhecera sem se dar conta. Ainda agora era o menino que corria em brincadeiras de esconde-esconde, soltava o pião e procurava tesouros escondidos na areia da praia.
O mar era já ali e o sol não precisava ser quente para entrar nas ondas mansas e ficar, boiando, olhos postos no céu, a sonhar com aventuras mil, voando com as gaivotas que rivalizavam com os farrapos brancos das nuvens.
Nada mudara. O mar e o céu, azuis de doer, o branco das gaivotas e das nuvens, ou a sua capacidade de sonhar. Sabia que havia rugas finas nos olhos que agora olhavam o céu e que os seus braços abertos abraçavam mais água, mas no seu coração corriam meninos, lutavam piratas, e havia beijos roubados na areia dourada.
E, de repente, o mar entrou-lhe em casa.




36 comentários:

  1. Ele ensinaria, se lhe pedíssemos, como se faz para que o mar nos entre em casa? :-)

    Que quadro tão bonito Maria TU

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    1. Acho que sim, noname! Só temos que o encontrar!

      Beijos :)

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  2. Retrato exato
    apenas o nome
    consta errado
    o meu não é Carlos

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  3. O mar, o mar, sempre recomeçado.

    Bom Domingo Maria:))

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    1. É tão bom, ir até ao mar! Ainda mais seria se ele viesse ao nosso encontro.

      Beijinhos, Legionário :)

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  4. Ao princípio pensei ser um texto com o espírito do Mário Henrique Leiria. Bem se vê que a imagem tão à Magritte empurrou-me nesse sentido. Mas como tinha tropeçado em "soltava o pião e procurava tesouros escondidos na areia da praia" porque lera sAltava Ao pião e procurava tesourAs escondidos na areia da praia. Só o escondidos é que me alertou para a ramela sêca e todo o humor viscoso que me tolhia ainda a visão. Aclarei a perspectiva e então o texto pareceu um dramático lamento ecológico desta passagem que por cá fazemos e da impermanência de tudo. E paradoxalmente a constância que somos quando nos agarramos à memória e preferimos rever em vez de ver.
    Isto tudo para dizer que escrita assim que me suscite estes torvelinhos de interpretação além de ser estimulante só pode ser boa.

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    1. A constância do que somos, sim! Rever pode ser um refúgio para fugirmos de ver o que menos nos agrada.
      A escrita? Tu é que tens uma imaginação extraordinária!

      Beijinhos, Luís :)

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  5. E, não nos entrando ele em casa, vamos nós adentrarmo-nos nele, onde, nesses momentos, mora a nossa casa.

    Beijinhos, Maryou :)

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    1. Nessa imensidão que serve de acalmia...

      Beijos, Lindona :)

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  6. "O mar entro em minha casa... e se fez real
    Em meus sonhos de menino viajante.
    O mar é meu companheiro errante,
    E agora é meu companheiro fiel e leal!"

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    1. Corrigindo....
      "O mar entroU em minha casa... e se fez real
      Em meus sonhos de menino viajante.
      O mar é meu companheiro errante,
      E agora é meu companheiro fiel e leal!"

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    2. O mar sonhado consegue ser real.

      Beijinhos, PDR :)

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  7. Deviamos poder brincar sempre, independentemente do tempo passar.
    Beijinhos Maria :)

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    1. Ter essa capacidade de tornar os sonhos realidade.

      Beijos, JI :)

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  8. o mar entrou-lhe em casa e fê-lo sentir criança de novo, esquecer os anos, a ruga ao canto do olho :)
    Beijinho Maria Tu

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  9. O mar entrou-lhe em casa por permanecer sempre em seus sonhos...
    Um texto excelente!
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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    1. o mar da infância...

      Obrigada, Graça, e os meus votos de uma excelente semana!

      Beijos :)

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  10. Excelente texto
    de um mar
    sem muros nem amos
    Bjs

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    1. O mar está onde o quisermos ver.

      Beijinhos e obrigada, MA :)

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  11. Fizeste-me lembrar o Al Berto: "curiosamente, hoje, ouve-se o mar como se estivesse dentro de casa. o vento deve estar de feição. a ressonância das vagas contra os rochedos sobressalta-me. desconfio que se disser mar em voz alta, o mar entra pela janela." ;)

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    1. Al Berto? Só mesmo no amor ao mar!
      Obrigada, Patife!

      Beijinhos :)

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  12. Terceiro blogue com o mar como tema hoje.
    Bom resto de semana.

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  13. como se sabe que envelhecemos se o mar é sempre mar e o céu sempre eterno?

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    1. Mas nós não envelhecemos, o nosso corpo é que envelhece.

      Beijocas, Stormy boy :)

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  14. O fim no princípio: a música? Gosto muito do rapaz.
    No último parágrafo ficou o abanão que nos confronta (afronta?) com a ilusão de braços maiores. Mas, a água é sempre maior.
    Para que te escrevo eu isto, se podia simplesmente dizer-te que escreves muito bem?
    Bj.

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