segunda-feira, junho 21, 2021

Hoje, o futuro.

(Marc Chagall)


Durante quase toda a vida, Joana pensara no futuro.

Primeiro, quando seria capaz de ler os livros colocados na estante mais alta da sala. Depois, quando lhos permitiriam ler.

Pelos seus 10 anos, perguntava-se como seria “ser mulher”. Ouvia as conversas sussurradas das mais velhas e não se lhe afigurava coisa de muito interesse. De grande interesse, por outro lado, eram as perspectivas de descobrir a que saberia um beijo, daqueles longos e apaixonados dos romances, lidos aos 13 anos.

O beijo veio aos 15. Não foi longo nem apaixonado. Oh, desilusão! Ficou o futuro prometendo melhor. E foi! Paixão, ardor, namoro dos 17! Nem imaginava outro assim! Mas houve outros beijos, de outros lábios. Mais os beijos que os lábios, é certo, mas bons por demais, antevendo não desapontarem.

Universitária, sonhava com a profissão. 

Curiosamente, chegou um tempo em que o futuro era o agora. Celebrava os momentos como se fossem únicos e últimos. Os livros começaram a ser (re)lidos ainda com mais entusiasmo e os beijos (ah, os beijos), sempre ardentes e demorados.


(Gustavo Santaolalla - Alma)

21 comentários:

  1. Uma menina a descobrir o que é ser mulher.

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    1. Meninas e meninos, sempre em busca do futuro.

      Beijinho, Pedro :)

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    1. Também é, a exemplo de muitas outras meninas.

      Beijinho :)

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  3. Tentarmos viver a vida com intensidade e desfrutarmos de tudo o que ela nos proporciona. Bonita esta publicação, quando do Chagall, as tuas palavras e a música de Gustavo Santaolalla.
    Obrigado Maria !

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  4. Apenas me identifico com a Joana no que se refere ao beijo.
    Quanto ao futuro, não. Curiosamente nunca fixei objectivos a prazo, nem sequer em pôr muito empenho num desejo. A infância e a juventude, a forma em que vivi tempos muito difíceis tornavam efémera qualquer ideia de futuro. Em mim, o futuro foi acontecendo...

    Hoje, o que mais me agrada
    é olhar para trás,
    sem remorso, arrependimento ou mácula

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    1. E que bom é, olharmos para trás e sentirmo-nos assim!

      Beijinho, Rogério. :)

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  5. Carissima Maria Eu, este beijo biográfico fez-me lembrar Bilac: «foste o beijo melhor da minha vida,
    ou talvez o pior...glória e tormento».

    Ainda posso trata-la por Tutu?

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    1. Bilac, esse poeta grandiloquente e um pouco trágico...

      Beijinho, caro Impontual.

      Tutu

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  6. Talvez...os beijos sejam consequências dos nossos belos pensamentos.
    Olá Maria:)

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  7. A suprema sabedoria: Curiosamente, chegou um tempo em que o futuro era o agora.

    Quem me dera!

    Um abraço do Algarve,

    Sandra Martins

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    1. Acho que só depois de uma certa idade, para lá de muita vida, podemos chegar ao futuro agora.
      Obrigada pela visita e pelas palavras, Sandra.

      Beijinho :)

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  8. Sem dúvida que o futuro é hoje. Lindíssima esta história da menina que quer ser mulher até que quando lá chega há tanta tanta coisa a descobrir e a acontecer... Gostei imenso de ler.
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um beijo.

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    1. Todas fomos essa menina, não é, Graça?

      Obrigada pelas sempre tão gentis palavras!

      Beijinho e bom Agosto. :)

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  9. "Ardentes e demorados"...
    Porventura mais curtos
    que os livros mais altos
    Mais curtos os dos
    especialistas em economia
    sempre com pressa
    das mais valias.

    Continuas a escrever
    com muita qualidade.
    Bj.

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    1. O amor traz esse ardor demorado e, também, a ternura.

      Muito obrigada, Agostinho.
      Beijinhos :)

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  10. Que ilustração provocatória.
    Onde tem a senhora enfiada a mão e o que está ela a fazer?

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    1. Ahahahah! Olha que eu nem tinha reparado em semelhante detalhe, sua malandreca! :)))

      Beijinho, Portuguesinha

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  11. Ler-te nunca é monótono.
    Foi bom, acompanhar o crescimento da Joana, fui-me vendo em paralelo.
    O futuro chega-nos num ápice.

    Gosto do texto, da pintura, da música.

    Já devo ter escrito, há alguns anos, que os teus post são muito completos. Que fazes um aproveitamento genial do suporte, com imagem, texto e som.

    Beijinho

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    1. Henrique, que bom (re)ver-te!
      Obrigada pelas tuas palavras. Agora, só falta voltares a escrevê-las no teu sítio.

      Beijinho :)

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