segunda-feira, julho 22, 2019

Joana

(foto de Pinterest, guardada por Carmelo C.S.V.)

Viam-se muito de quando em vez. Sabiam-se amigas e isso bastava para que se alegrassem a cada encontro. Ambas carregavam um tempo de vida que justificava o disfarce dos cabelos brancos com tons de cobre e o uso de saltos menos altos.
Abraçaram-se estreitamente e Laura percebeu que Joana tinha um brilho que lhe não via há anos. Disse-lho e recebeu um sorriso rasgado. Joana, a mulher alegre, de convicções fortes, tinha encontrado, sem aviso prévio, o amor. 
Falou-lhe do espanto, do coração disparado, das mãos trémulas. Contou-lhe que achara um disparate, aquela coisa de se apaixonar a caminhar para os sessenta, mas que era tudo igual ao que sentira quando jovem. O sangue que se não aquietava, o pensamento sempre preso aos momentos de encontro, o sorriso tonto quando se perdia nas lembranças daquelas mãos apertando as suas. Confessou, ainda, que não seria um daqueles amores "para sempre", mas que era tão bom, mas tão bom, que não importava se durasse meses ou anos.
Quando se separaram, Laura seguiu Joana com o olhar até que desaparecesse na porta do corredor onde se encontrava. Como eram leves, os seus passos!


(Chavela Vargas - Adoro)

20 comentários:

  1. O lugar-comum diz (com razão, por certo) que o amor não escolhe idade.
    :)

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  2. O amor,
    seja lá isso o que for
    nada tem a ver com a idade
    há almas que não envelhecem
    e, nessas, o coração
    também não.

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    1. Dizem que essas almas estão predestinadas a encontrarem-se...

      Beijinhos, Rogério :)

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  3. Quem é que disse que há uma idade limite para se amar, para a paixão?
    Bjs

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  4. O cupido a fazer das suas. É o que sempre digo, nunca é tarde.
    Que texto lindo Maria, beijinho

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    1. Um doidão, esse tal de Cupido! :D

      Obrigada, GM, e bom fim de semana :)

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  5. Há abraços e olhares cúmplices em que nem são necessárias palavras!
    É bom amar assim, sem idades nem prazos!

    Beijos abraçados nos teus
    (^^)

    (também adoro a música)

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    1. Somos umas românticas inveteradas! :)

      Muitos beijos, miúda musical :)

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  6. "era tão bom, mas tão bom, que não importava se durasse meses ou anos" que texto lindíssimo. Amei

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  7. Feliz Joana!
    De quando em vez
    até é melhor que nunca
    Assim rebolem sapatos na escada
    e nas cadeiras se empinem panos
    de marear
    no mesmo bote ambos
    intensamente

    Bj, Maria.

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  8. Que coisa linda escreveste, Agostinho! Obrigada!

    Beijinhos :)

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