terça-feira, outubro 19, 2021

Transmutação

 

(Sebastian Fernandes/Artmajeur)

Sentava-se no lugar do costume, na posição do costume, com os livros do costume, numa rotina cada vez mais muda. Lentamente, parecia fundir-se com o cadeirão que, de dia para dia, ia tomando paulatinamente a forma do seu corpo. Ou seria o oposto, e era ela que parecia vestir a forma do cadeirão, arriscando-se a desaparecer na profusão de flores cor de vinho do tecido?


(Camille Thomas – Dvorák: Songs My Mother Taught Me)

21 comentários:

  1. Gente que espera a morte enquanto sobrevive.

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    1. Ou que vai morrendo lentamente sem o perceber.

      Beijinho, Pedro. :)

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  2. Olá Maria fiquei a pensar nessa tua frase "Ou que vai morrendo lentamente sem o perceber."

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  3. Teu texto
    entra pela realidade
    adentro
    é gente
    que ante de morrer
    já não vive

    (E que belo
    esse som
    de violoncelo)

    Beijo de amizade

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  4. Este texto é alusivo ao confinamento :) !
    Gostei Maria, de tudo, como é costume. O teu bom gosto é exemplar !!!

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    1. E a outros confinamentos...
      Muito obrigada, Ricardo!

      Beijinhos ☺

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  5. A rotina é um acomodamento terrível. Um texto que alerta para isso. Sejam quais forem as circunstâncias é preciso vencê-la. Belíssimo e reflexivo.
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um beijo.

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    1. Quando já nem se sabe quem somos...

      Muito obrigada, Graça, por tudo!
      Beijinhos ☺

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  6. Uma crónica, «carregada» de poesia... ou um poema «disfarçado» em forma que não sei identificar, mas sempre de rara beleza!

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  7. Existem vidas com muitas dificuldades tanto físicas como mentais. Desistir e esperar a morte NUNCA será a solução, mas sim, o problema. Haja coragem para sobreviver nesta vida terrena
    .
    Cumprimentos poéticos.
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  8. KK, visão optimista. Gosto!

    Beijinhos ☺

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  9. Maria,
    Pões-me a pensar em
    Gente que aos costumes diz Sim
    Molda-se à cadeira da circunstância
    E às vezes
    Até ganha substância,
    Faz flores sem exuberância
    Desengraçadas sem odor plastificadas
    Nem por sombras flores.

    Beijo.

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    1. Talvez, para esses, seja mais fácil acomodarem-se.

      Beijinhos, Agostinho. 🙂

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  10. Peço desculpa antecipadamente por fazer o que se não deve fazer por falta de autorização e competência: paulatinamente está a mais, oposto não faz falta, profusão cor de vinho das flores do tecido flui melhor.

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    1. 🙃

      Fui ver. Quem sabe se tirava a palavra? Mas foi ela que veio ter comigo, a atrevida...

      Beijinhos, Luís.

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