sábado, dezembro 05, 2020

Do correr dos dias

 

O dia acordou gelado e branco. Nem os pássaros ousam cantar, aninhados nos castanheiros quase despojados das folhas, que agora atapetam o campo.

Um cão ruidoso diverte-se a perseguir a própria cauda provocando gargalhadas a um grupo de crianças, vigiadas de perto pelo olhar atento e terno de uma senhora de cabelos brancos.

Ao longe, na curva mais pronunciada da estrada que bordeja o terreno, ouvem-se, de quando em vez, os pneus de um automóvel em gritaria, queixando-se do excesso de velocidade, em aderência forçada ao asfalto.

Nuvens carregadas de cinzento trazem bátegas grossas que o vento transforma em látegos.

O cão corre aos zigue-zagues, e as crianças arrastam a senhora pela mão, entre gritinhos estridentes.

Restam os castanheiros, quase desnudos, estoicos, debaixo da chuva grossa e fria.


(Cannonball Adderley - Autumn Leaves)

4 comentários: