quarta-feira, fevereiro 26, 2020

Alegria

(Ana Luísa Pinto)


Havia uma menina na varanda, toda ela graça e alegria. Era uma varanda antiga, numa casa grande, pintada de branco, escancarada de grandes janelas envidraçadas. Quando o sol vinha e a cobria de beijos, não havia vidro que não brilhasse, à semelhança dos olhos da menina.
Nem no rigor do Inverno deixavam de se ouvir as gargalhadas límpidas, percebendo-se, na amurada, o gorro vermelho de lã encimado por um pompom multicolor.
As árvores, embora a ritmo mais moderado, iam crescendo com ela (Clarinha, ouvira chamar-lhe) e pareciam inclinar-se para servir-lhe de protecção. Permitiam-lhe, ainda, ensaiar cantos, em coro com o chilreio do pássaro que, todos os anos, construía o ninho nesses ramos.
Frondosas, as árvores, fechadas, as vidraças, calado o pássaro, ausente, Clarinha. 
Foram tempos estranhos aos passantes, habituados que estavam a abrandarem o passo, à escuta.
Até que correu notícia do regresso. O pássaro desatou num canto tão melodioso e ininterrupto, que era impossível não parar a ouvi-lo. Ao fundo, uma voz alegre de rapariga, toda ela graça e alegria.


(Lola Marsh - She's a Rainbow)

8 comentários:

  1. ... à espera de um SIM!, para o almoço colectivo :)*

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  2. Todos os cantos de pássaros
    anunciam regressos

    ou a Primavera
    ou quem mais chega

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  3. De certeza ouviu o canto do meu passarinho Artur

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  4. Mas os canoros intempestivos são, caramba, a origem dos sonos que não há forma de serem saciados, quando decidem dar ares das suas artes, ainda o alvorecer é jovem, ainda a mente vagueia por terras de onde não apetece regressar a horas tão improváveis, tão impróprias...

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  5. Revisitar, reformular o olhar, moldar a alma...

    Abraço

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  6. Enquanto houver pássaro, árvore e menina a esperança há-de manter a seiva a escorrer, o brilho dos olhos voltará a fascinar os circunstantes.
    Bj.

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