sábado, abril 23, 2016

Milhões

(Soldados do Corpo Expedicionário Português em La Lys. Daqui)

Aníbal Augusto Milhais (Murça, Valongo, 9 de Julho de 1895 — 3 de Junho de 1970), mais conhecido por Soldado Milhões, foi soldado na I Guerra Mundial e a sua coragem na Batalha de La Lys fez dele o único soldado deste país a alguma vez receber a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, no campo de batalha.
O soldado Milhões, como ficou conhecido, abandonou a trincheira onde era o único sobrevivente, enfrentou colunas alemãs com a sua metralhadora Lewis, Luísa, para os portugueses, que ia reabastecendo de munições encontradas enquanto andarilho do campo de batalha. Durante essa jornada, salva um médico escocês de morrer num pântano e é ele que relata aos aliados a coragem de Milhais.
Foi o comandante Ferreira do Amaral, aquando do seu retorno para junto dos camaradas portugueses, que o saudou, dizendo: "Tu és Milhais, mas vales Milhões!"
Valongo viu o seu nome alterado no Parlamento para Valongo de Milhais, em honra dos feitos do filho da terra.
Milhões, contudo, não teve vida condicente com o nome. As honrarias não lhe encheram a barriga, nem a dos seus descendentes. Num programa recente em que a sua história foi recordada, um deles afirmava, numa voz baça: “Cando caurcei os primeiros sapatos, tinha 15 anos.”
Nunca tinha ouvido falar de Milhões, mas estas palavras, ditas assim, trouxeram-me ecos da miséria e das glórias vãs de tempos idos. Tempos que começam a parecer extraordinariamente presentes.


22 comentários:

  1. "Somos a memória que temos"
    e as que partilhamos

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    1. Sem dúvida, Rogério. Haja memória, sempre!

      Beijinhos :)

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  2. Os heróis do povo não cabem na história, sempre anónimos, "dispensam" honrarias.
    Boa semanada.

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    1. Principalmente se as honrarias continuam a ignorar-lhes a miséria...

      Beijinhos, Agostinho :)

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  3. ~~~
    Esta homenagem antecipada à batalha de La Lys é muito louvável

    e está interessante, pelo modo como foi abordada.

    Uma semana de agradáveis dias primaveris.

    ~~~ Beijinhos, ME. ~~~
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

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    1. Obrigada, Majo.

      Beijinhos e continuação de bom descanso :)

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  4. já tinha ouvido falar, mas fiquei mais elucidada :)
    beijinho Maria

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    1. Fiquei interessada na história quando ouvi as palavras do seu descendente, num sotaque cerrado do norte e do desalento...

      Beijos, Laura :)

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  5. Ah, Maria, memórias de outros tempos! Um homem (que muito prezo) na minha família recebeu, como prenda no seu décimo aniversário, o privilégio de comer um ovo estrelado, todinho para ele. Sapatos, só muitos anos depois.
    Beijinho.

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    1. E ainda há os que, hoje, desdenham do que foi conquistado...

      Beijos, MC :)

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  6. Outros tempos... A minha mãe também contava que ganhou os seus primeiros sapatos com dinheiro ganho, no campo, a espantar os pássaros para estes não comerem as ervilhas. Já teria os seus nove anos...

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    1. Uma dureza que nós tivemos a felicidade de não conhecer de perto, Luísa.

      Beijos :)

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  7. A escassez e a miséria adquirem novas formas e pairam no horizonte, até a guerra se aninha como uma fera faminto na curva do caminho e bem vemos na distância os que devora. Vivemos de novo "tempos sombrios" como disse o Brecht no seu poema.

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    1. Ah, Luís, como queria poder discordar de ti!

      Beijinhos :)

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  8. infelizmente parece-me que só o pior se repete... os actos de bravura e cabeça erguida, esses serão como lendas, numa sociedade cada vez mais voltada para o individualismo, de cabeças descaídas sobre aparelhos electrónicos, sempre a par do mundo e cada vez mais distante dele.

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  9. Contentes na trincheira, momento raro esse, bem apanhado pelo fotografo ou feito para o fotografo.
    O soldado que valia milhões.

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    1. Veler, valia, mas não tinha nada de seu...

      Beijinhos, Urso Misha :)

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  10. É o país que temos...
    ...e de certa forma sempre tivemos!

    E é triste!

    :)

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