Chegou a casa com as malas de anos de ausência e um diploma na mão. Imaginava a alegria do pai e o sorriso da mãe, sabendo-a à beira de outra vida. Passara anos longe deles. Primeiro, criança em prantos pela noite, na cama de ferro forjado de um dormitório de meninas pequenas. Depois, adolescente, em desabafos de páginas e páginas, nos diários que misturavam palavras com flores e folhas secas, onde os amores da vizinha e de Rodrigo (ou seria Rogério?) se confundiam com o sonho de ser arrebatada da sala de estudo do colégio por um rapaz garboso, ao volante de um dois cavalos vermelho.
Mulher, agora, quatro anos na cidade, partilhando um quarto minúsculo com sucessivas companheiras de estudo, desistentes dos limitados metros quadrados e do toque altissonante do despertador alheio às sete da manhã, sem falhar.
Eram as suas últimas férias grandes. No final do Verão, Maria Helena faria as malas, de novo, e partiria, rumo à idade adulta.
Tão bonito Maria. E quantas de nós nos revemos na Maria Helena :). Mais uma vez sou uma delas, que parti da pequena Vila de mala as costas para Lisboa para aprender uma profissão e voltar preparada para iniciar uma nova fase daninha vida. Sai menina, voltei mulher. Beijinhos Maria
ResponderEliminarObrigada, GM. Foram tantas, as Marias Helenas deste país!
EliminarBeijos. :)
Com o tempo apercebi-me que ao ouvir, ou ao ler, ou ao observar boa arte isso provocava em mim uma vontade incontrolável de expressão prática e se não houvesse ninguém com quem falar ou ía desenhar ou ía escrever.
ResponderEliminarAo ler esta tua trilogia além de ter de te escrever isto, surgiu a compulsão para desenhar.
Muito obrigada, Luís! Esse é um elogio e tanto!
EliminarBoa tarde. :)
“Há um tempo para partir, mesmo quando não há um lugar certo para ir.”
ResponderEliminarTennessee Williams
Querer é poder, não só porque há coisas que não se conseguem sem que sejam realmente queridas, mas porque é realmente um «poder». Quem não quer nada sofre, por definição, de uma fraqueza. Por outras palavras, quem não quer nada a não ser o que tem, não avança – tem uma situação que não arrisca, que não aquece nem arrefece.
Boa semana, Maria!:)
Procurar um lugar próprio. É o que temos que fazer.
EliminarBoa semana, Legionário, e um sorriso. :)
Perdi o meu pai à entrada dessas férias, foram passadas aos tropeções. Passaram para o ano seguinte, não de dois cavalos vermelho mas de 4 L branca :)
ResponderEliminarFico sempre com uma dor no coração quando alguém fala da perda de pessoas que lhe são queridas...
Eliminar4 L branca? Conduzi uma algumas vezes. :)
Beijos, Ness. :)
Um texto muito bonito, Maria!
ResponderEliminarEspero que Maria Helena continue a trepar às árvores, mesmo em adulta :)
Um beijinho
Muito obrigada, Miss Smile!
EliminarNão sei se continuará a trepar às árvores mas talvez cometa outras tropelias. :)
Beijos. :)