Regressava à aldeia nas férias escolares. Os dias que a aprisionavam no edifício em U, amarelo, com portões verdes aferrolhados a sete chaves e janelas de fechos duplos, ficavam para trás. Lá, Maria Helena fechava também as sempre sombrias mulheres de hábito negro, olhar gelado e mãos secas, que marcavam as horas a rezas e ordens ríspidas. Juntamente com elas, a menina Joselina, um misto de criança e velha, olhos pequeninos e vivos, gargalhada fácil, mas perversa na vigilância de cada desvio da linha para o dormitório, de cada palavra segredada ao ouvido.
Agora, respirava de novo a liberdade das tardes a alongarem-se noite adentro, sentada no banco sobranceiro ao pomar, livro aberto nos joelhos, o embalo dos grilos e dos ralos, de quando em vez entrecortado pelo latir do Delfim em perseguições ao Patusco, o gato preto. A vizinha, outrora adolescente, já não punha o gira-discos a tocar ali ao lado. Casara com o Rodrigo (ou seria Rogério?) e fora para Lisboa. Diziam que eram muito felizes, aqueles dois, sempre unidos num abraço, sempre em sorrisos cúmplices e beijos furtivos. Suspeitava que, agora, ouviam música romântica e dançavam, enlaçados, para além do girar do LP*.
As férias grandes [eram mesmo enormes esses dias de férias grandes!!!] no tempo em que usávamos uma bic laranja ou bic cristal - :) - para puxar a fita ou voltar a enrolar...no tempo dos LP`s...dos velhinhos e extintos slows :). Outros Verões!
ResponderEliminarBeijo Maria
Bom Domingo
Verões a ecoar na memória doce de um início de mais um Verão.
EliminarBeijos, Té. :)
Era Rogério, de certeza
ResponderEliminarMaria Helena?
Não seria Teresa?
(Joe Dassin, boa proposta!)
Teresa, decerto. Mas a Maria Helena não tinha, ainda nenhum amor, só ouvia do que a vizinha encontrara . :)
EliminarBoa noite, Rogério. :)
sabemos que estamos "fora de prazo" a partir do momento em que não necessitamos de explicação para LP?
ResponderEliminarNão! Sabemos que somos mais sábios! :)
EliminarBoa noite, manel. :)
Alguma coisa depende da idade que temos agora e do jeito que temos de nos lembrarmos das idades que tivemos. Começamos por dizer "quando eu era novo" – mas nós nunca fomos simplesmente novos.
ResponderEliminarMais do que termos sido novos, fomos antes vários tipos de novo.
Fala-se, com lassitude, de gerações. Nunca se fica a saber, mal ou bem, a qual pertencemos, mesmo que queiramos pertencer a alguma. Não. Importa o ano em que se nasce. A idade, tal como no vinho, é relativa. Algumas pessoas ganham em consumir-se cedo. As melhores exigem que se espere. Resta vermos as nossas idades não como um percurso linear e previsível mas com a surpresa deliciosa dos anos vintage que não se adivinhar.
Quando éramos novos éramos velhos. Quando somos velhos, ainda somos novos….Resta saber, como sempre, ao que viemos.
E sim, Maria tenho saudades…das “férias grandes” desses dias intermináveis de Verão!)
Legionário, este comentário merecia ser um post!
EliminarA saudade tem um sabor agridoce...
Beijos e uma boa semana. :)
Já não temos férias grandes, mas ainda há quem ouça LP... Revivalismos. :)
ResponderEliminarCá em casa ouve-se muita música em LP. :)
EliminarBeijos, Luísa. :)