Desde pequena
que tinha aquele hábito. Fechava-se no quarto, persianas corridas, a ver no
escuro.
Menina. O que
tanto vês no escuro? Perguntava-lhe a mãe.
Tanta coisa!
Tudo o que eu quiser!
Era no escuro
que sentia o corpo mais vivo. Ontem, as veias a latejarem de sangue jovem e
quente. Hoje, a evidência da idade nas cicatrizes que lhe marcam a pele.
Quedam-se-lhe as
mãos no baixo ventre, onde uma une as virilhas, logo se encontrando com duas
mais pequenas, simétricas, um pouco abaixo. Não são as únicas testemunhas da
frieza do bisturi. Um pulso, um pé… E ainda as marcas de quedas nos joelhos.
Há ainda uma, a
mais recôndita e importante de todas, irregular, por vezes dolorosa, traço
primeiro de uma vida a rasgar caminho, portal para o mundo de todas as dores e
todos os prazeres.
Recomenda-me Minha Alma: se não entendes, não comentes!
ResponderEliminarSecunda-a o Meu Contrário (como deves já ter percebido, é o Meu Juízo)
Então... então, não comento e limito-me a acender a luz
Beijo
A eterna questão das marcas do envelhecimento e da vida que o acompanha. Marcas=cicatrizes.
ResponderEliminarBeijinhos, Rogério.
Semana feliz
ResponderEliminarObrigada, Pedro, igualmente!
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O diálogo da noite com o corpo. Noite a noite. Belíssimo!
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.
Muito obrigada, Graça!
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